O taoísmo nos ensina que devemos agir, não-agindo. Eu sempre lia esta afirmação mas, de fato, não a compreendia muito bem. Parecia muito mais um paradoxo, do que algo prático, cognoscível, possível de ser feito.
Durante algum tempo fiquei meditando sobre isso, tentando entender de forma racional, comparando as sentenças, porém, sempre era pego por um pensamento que me levava a acreditar que eu estaria sendo tolo ao tentar fazê-lo daquela maneira. E isso era real.
Considerando que estamos falando de uma cultura milenar, de um texto escrito em chinês, que é um idioma totalmente diferente do meu (o português) e que não sabemos ao certo como e quando fora escrito, concluímos que seria uma grande perda de tempo basearmos o entendimento somente naquela mera tradução e escolhas de palavras.
Era preciso ir além, transcender!
Quando desisti de analisar de forma técnica, mas ainda mantendo o foco do discernimento ativo em meu ser, algo aconteceu. Foi a caminho de uma cidadela do interior do estado de São Paulo, chamada Igarapava, que tudo fez sentido para mim e pude então compreender o que Lao Tzu gostaria de ensinar.
Em minha mente abriu-se, em detalhes, todo o contexto da viagem que estava fazendo naquele momento, aplicado a tudo o que estava meditando sobre este ensinamento taoísta. E, da forma como entendi, compartilho aqui com vocês:
Agir: Decidir o destino, trabalhar, comprar a passagem, pegar o ônibus na hora correta, subir, sentar-se. De agora em diante, as ações para se chegar ao destino, terminam.
Não-Agir: Permanecer no ônibus, observar a paisagem, aguardar o destino ou a próxima parada chegar e, neste último caso, descer, aproveitar o momento, subir e continuar aguardando o destino.
Percebe que o agir sempre vai de encontro ao destino (pois já compramos a passagem com o destino definido) e o não-agir vai de encontro a viver e apreciar o momento? Percebe que o não-agir é um veículo, o ônibus que, à sua maneira, através do condutor, estabelece as rotas, prepara o veículo e o conduz ao destino que, não só eu, mas também uma considerável quantidade de pessoas iriam? Adiantaria eu e/ou cada um dos passageiros interferirmos no trajeto, opinando ao motorista sobre qual seria a melhor rota, ou o caminho mais agradável para seguirmos? No final das contas, um percurso que seria considerado curto, feito em algumas horas, poderia demandar dias, ainda sob um grande estresse!
Quando vivemos o "agir pelo não-agir", adquirimos a consciência de que chegará o momento de subirmos no ônibus e aguardarmos. Isso faz com que possamos viver com simplicidade, porém com muito mais confiança, com muito mais naturalidade e positividade, pois sabemos que o veículo nos conduzirá - sempre - ao destino estabelecido.
Quando chegar alguma parada, iremos aproveitá-la para esticarmos as pernas e, quando acabar o tempo da mesma, voltaremos ao percurso normal, sem a menor necessidade do desânimo, do desespero, da angústia, das ações precipitadas, que o desejo da interferência, causado pela ansiedade, promoveria.
O Universo é totalmente lógico e não estamos pegando o ônibus isoladamente, apesar de ser uma passagem individual, uma série de combinações, envolvendo a todos os passageiros, deverá acontecer para que o ônibus se dirija àquele destino, com aquelas pessoas. Algumas pegam o ônibus, indo no mesmo sentido, porém descem antes, outras, depois de nós. Que nunca duvidemos da logística Universal!
Apliquemos a seguinte fórmula em nossas vidas: o que depender de mim, o farei; o que não mais for de minha competência, deverá ser conduzido, seguindo o fluxo natural da vida.
Espero ter auxiliado, de alguma forma, com a compreensão deste belo e profundo ensinamento taoísta!
Paz e Luz!