Giacomo era um grande poeta e aventureiro. De suas diversas experiências, retirava toda a inspiração que precisava para escrever suas obras. Ele estava a viajar pelas terras do interior da Itália, seu país natal. Apesar de seu destemor e aparente desimpedimento, em seu coração, havia a nítida imagem de sua amada Cláudia, a quem planejava pedir em casamento, logo que voltasse para Roma.
Cláudia não sabia das intenções de Giacomo, mas sabia que ele guardava, por ela, uma grande admiração. Porém, após quase cinco anos sem algum tipo de posicionamento do aventureiro, enquanto em terras longínquas, Cláudia recebe um pedido de casamento e o aceita.
Giacomo, durante sua viagem, após uma noite de festa, fica sabendo que Cláudia havia aceitado o pedido de casamento de um de seus melhores amigos. Sua decepção, ira e culpa, eram tremendas. Por várias noites seguidas, vagueava em meio às ruas daquela cidade do interior, pois nem mesmo conseguia voltar para casa ao pensar em ter de se deparar com Cláudia, ou mesmo com seu “amigo”.
Desiludido e triste por tamanho infortúnio, ele dorme na rua. Giacomo acaba por acordar no dia seguinte com um barulho próximo a si: era um senhor de uns setenta anos, que acabara de sentar-se no banco daquela praça e havia começado a escrever algo em uma folha de papel. O aventureiro volta a dormir. Cerca de uma hora depois, aquele idoso se levanta e vai embora.
Após uma brisa matinal, um pedaço de papel cai sobre a face do poeta adormecido, acordando-o novamente. Ao olhar o conteúdo daquele bilhete, Giacomo se espanta! Ele, que era um grande escritor, sabia apreciar um bom verso, ainda mais quando o mesmo era escrito com tamanha sabedoria e assertividade. No bilhete estava escrito: “Pessoas vão e vêm de nossas vidas, mas os únicos que permanecem, somos nós mesmos - Autor Desconhecido”. Seus olhos, agora sim, estavam abertos!
Giacomo se levanta e começa a se questionar sobre quem pudera ter escrito aquele bilhete que tanto lhe ajudara. Pesquisou nas ruas, em lugares nas proximidades, mas não encontrava ninguém que pudesse lhe dar, ao menos, uma pista de quem poderia ser o “sábio do bilhete”.
O poeta volta à praça, indignado por não ter conseguido encontrar o tal “Autor Desconhecido”. Ele volta a dormir e, no dia seguinte, acorda novamente com o mesmo barulho da manhã anterior.
“Mas, é claro! Foi o senhor!”, exclama ele, ao ver aquele mesmo idoso sentado no banco.
“O que eu fiz?”, pergunta o misterioso ancião.
— Foi o senhor quem escreveu este bilhete na manhã de ontem, não foi?
Olhando o bilhete, o senhor lhe responde:
— Aqui está escrito “Autor Desconhecido”.
Insatisfeito com a resposta, Giacomo lhe diz:
— Ora, isso é óbvio! Mas, lhe pergunto se foi o senhor quem escreveu!
O senhor lhe olha e pergunta:
— Jovem poeta, em sua opinião, por que alguém que assina como “Autor Desconhecido” iria querer ser identificado?
— Marketing, mistério, etc. Mas, isso não vem ao caso. Eu só quero saber se foi o senhor quem escreveu esse bilhete, pois me ajudou muito. Porém, já estou começando a desconfiar que não tenha sido o senhor, porque, se fosse, já teria falado.
O senhor lhe olha serenamente, sorri e diz:
— Se essas palavras foram suficientes para lhe ajudar a desafogar seu coração, qual diferença faz saber quem as escreveu?
— Eu gostaria de agradecer ao autor.
— Pois bem, eu as escrevi.
Já incrédulo, Giacomo, pergunta mais uma vez:
— Mas, então por que não assina com seu nome verdadeiro, ou mesmo diz que foi você, sem todo esse rodeio?
O sábio senhor lhe responde:
— Jovem… quando sabemos que a mensagem é mais importante do que nossa imagem; quando sabemos que ajudar é mais importante do que ser reconhecido por praticar bons atos; quando reconhecemos que somos muito mais aprendizes do que professores, só nos preocupamos em fazer chegar a mensagem. Isso é só o que importa. Quantas mensagens já não leu assinadas por um “Autor Desconhecido”?
— Diversas.
— Pois bem, me uno a todos os outros Autores Desconhecidos em suas obras, sem ser “Eu e Minha Mensagem”, assumo a autoria desta e de todas as outras de autoria desconhecida, sem ser singular e individualista, mas sendo plural e altruísta. Isso deixa a mensagem mais forte. Passar adiante aquilo que se aprendeu com a vida é o que nos define como humanidade e como tal, somos um.
— Muito obrigado.
Giacomo se emociona e, a partir de então, passa a se unir com aquele senhor, no mesmo propósito, ao assinar como “Autor Desconhecido”, todas as vezes que precisasse enobrecer e fortalecer a mensagem a ser transmitida.