As Pirâmides - Quéops I
Este presente artigo é continuação do primeiro, intitulado Minha Ida ao Egito I (clique aqui para conferi-lo).
Prosseguindo a nossa aventura no Egito, já sabendo que “nem tudo são flores”, subindo pelo pavilhão de acesso ao platô das pirâmides, podíamos ver o tipo de asfalto escorregadio em que seguiam as carroças puxadas por camelos, ofegantes, ao empregarem força extrema em seus passos, a fim de garantirem o mínimo de atrito com o solo deslizante, sob o reio de seus condutores. Essa cena nos foi bastante incômoda e, de certa forma, até revoltante.
Ao observarmos aquela triste cena, percebemos que a nossa atitude de negar o “passeio de carroça” ao qual fomos, forçosamente, impelidos a aceitar, além de nos poupar algum dinheiro, também havia poupado do esforço desnecessário, um indefeso animal.
A minha intenção aqui não é julgar o “certo” e/ou “errado”, ou mesmo os motivos pelos quais aquelas pessoas praticam esses atos, mas estou sendo totalmente explícito e transparente sobre as minhas sensações e impressões de tais situações às quais tivemos sido expostos. Enfim, continuemos…
Durante nosso percurso de aproximação do platô, tivemos a abordagem incessante dos artistas que nos apresentavam suas esculturas, seus artesanatos, e tivemos também, vários egípcios que nos ofereciam seus serviços como guias, porém, naquele momento, só gostaríamos de caminhar livremente e admirarmos cada pedaço daquelas construções tão antigas que estavam logo ali, agora tão próximas de nós.
Aqueles egípcios, adeptos da canção de Raul Seixas e Paulo Coelho “Tente outra vez”, não sabiam quando parar. Ofereciam-no um presente, se aceitávamos, ficavam pedindo uma “ajuda” que equivalesse ao valor do presente mas, se decidíssemos devolvê-lo, diziam-nos: “no, it’s my gift to you” (não, é meu presente a você); ou seja, havia ali um looping, uma grande perda de tempo tentando devolver o “presente” para que não fôssemos seguidos, literalmente, a todos os cantos, sendo cobrados por ele.
Passamos por várias situações seguidas, exatamente, como essa. Entendemos que a causa dessas abordagens se dava pela nossa ingênua educação, ao respondermos a todos que nos perguntavam sobre a nossa nacionalidade, pois acreditávamos que poderíamos ter ali, a oportunidade de fazermos uma amizade, ou algo do tipo. Infelizmente, as nossas intenções não eram as mesmas.
Chegar às pirâmides era mesmo muito mais difícil do que imaginávamos, mas isso só nos motivava ainda mais, ao pensarmos que, quando chegássemos até lá, tudo teria valido a pena!
Tivemos de passar sem responder à maioria dos vendedores, para evitarmos maiores prejuízos em relação ao nosso tempo, já tão curto. Como disse no artigo anterior, no Egito, toda a parte comercial fecha às 16h. Sendo assim, para que pudéssemos ter tempo de andar por todo o platô, que é gigantesco!, deveríamos dispor de um tempo considerável. Só para se ter uma noção, ao se dar uma volta completa na Grande Pirâmide, percorre-se quase 1Km!
Ao adentrarmos o platô, lá estava ela, à nossa direita, a tão falada e aclamada Grande Pirâmide de Quéops (Khufu)! À nossa esquerda podíamos ver as outras duas grandes pirâmides, menores que a de Quéops: Quéfren (Khafre) e Miquerinos (Menkaure).
Não tivemos nenhuma dúvida de começarmos nossa exploração pela Grande Pirâmide. Com seus quase 149m de altura e, cerca de, 230m de base, leva-se quase cinco minutos para caminhar-se, de uma ponta à outra, da mesma face! É algo absurdamente grande!
Sem mesmo contermos a nossa alegria e as motivações pessoais em estarmos ali, eu e o Professor Chiquinho, começamos a imaginar uma série de acontecimentos históricos que se deram exatamente ali, onde estávamos pisando. Falávamos sobre Eratóstenes, Tales de Mileto, os Faraós e Atlântida. Foi uma total epifania mútua!
Tiramos algumas fotos neste momento, quando tentávamos encontrar um melhor ângulo que pudesse abranger, inteiramente, a Grande Pirâmide. Ensaiamos alguns vídeos e também fizemos algumas observações sobre as coisas que havíamos passado pelo caminho até chegar ali. Nesse momento, os vendedores e artistas voltaram a se aglutinar em torno de nós. Tínhamos de sair dali. Já havíamos permanecido cerca de meia-hora, naquele local.
Continuamos a nossa caminhada rumo à face norte, onde percebemos algumas explorações inacabadas, algumas rochas sobrepostas e, após elas, já avistávamos o grande deserto do Saara (a palavra Saara também significa deserto).
Em nossas observações iniciais notamos que ali não haviam muitas pessoas, o fluxo de turistas ali era nulo. Éramos os únicos naquela região. Justamente por isso nos sentimos mais tranquilos e, fora todas as constantes abordagens dos vendedores, agora sim, poderíamos conversar um pouco, ou mesmo tirarmos algumas fotos.
Adentramos um pouco algumas ruínas que ali haviam, olhamos os tipos de pedras que eram mais comuns no solo do deserto e, de repente, um apito soa! Ficamos exatamente onde estávamos e logo vimos um jovem, de seus 25 anos, boné, luvas e óculos escuros, que se aproxima e nos indaga do porquê de estarmos ali. Disse-lhe que estávamos observando as pirâmides de outros ângulos, vendo algumas ruínas daquela face-leste e tirando algumas fotos.
Ele se apresenta como um dos guardas do local e se ofereceu para tirar, de nós, algumas fotos. Agradeci, mas negando, pois já imaginava que pudesse querer nos cobrar por elas. Seu Francisco, porém, aceitou que ele pudesse colaborar com nosso book egípcio!
Tiramos algumas fotos. Passamos alguns momentos ali fazendo poses sugeridas por ele, no que poderíamos chamar de “realidade aumentada”: as fotos eram tiradas de um ângulo tal, que davam a impressão de estarmos interagindo direta e proporcionalmente, em termos dimensionais, com as pirâmides.
Após terminarmos a nossa sessão de fotos, perguntamos a ele quanto ficaria, porém, ele negou qualquer proposta de pagamento pelas fotos. Não demora muito e ele nos oferece para levar-nos até uma tumba “próxima” que, até então, não havia sido divulgada, pois ainda estava sendo estudada pelos egiptólogos. Uau! Aquilo parecia ser o início de uma aventura e amizade com o guarda recém-conhecido por nós. Mas, seria assim mesmo, tão bom, para ser verdade?
Começamos a caminhar pelas areias do deserto, rumo à “tumba secreta”. A cada cinco minutos eu lhe perguntava quanto ficaria aquela guiança. Ele sempre dizia que não cobraria nada, porém, eu não acreditava. Já estávamos andando há mais de 15 minutos e não havíamos chegado ainda.
Seu Francisco estava muito empolgado em encontrar a tal tumba, com seu ímpeto imortal de aventureiro, não estava preocupado com nada além de chegar em seu destino. Eu, jovem mais velho da dupla, paro com firmeza à frente do guarda, após quase 25 minutos de caminhada, sem mesmo avistar o destino e pergunto-lhe, com todas as letras, quanto iria nos cobrar por aquilo, pois era necessário saber a quantia, já que poderíamos não ter o suficiente para recompensá-lo.
O “guarda”, com tom mais altivo, responde que, se nós quiséssemos dar a ele um dólar, ele iria aceitar, se quiséssemos dar a ele cinco mil dólares, ele também iria.
Sendo assim, continuamos, porém começamos a nos preocupar muito, já que havíamos começado nossa jornada adentrando o deserto e não tínhamos noção alguma de onde estávamos indo. Tudo é muito amplo e distante ali, porém, temos visão longínqua, pois estamos em um planalto desértico, onde estão ausentes quaisquer empecilhos visuais. No entanto, já estávamos bem distantes do platô. A afirmação da existência de uma tumba dita “próxima”, há mais de trinta minutos de caminhada deserto adentro, se tornava, no mínimo, enganosa.
Paramos! O “guarda” nos questionou, começou a alterar o tom de voz, mas nós começamos a notar o quão estranha estava sendo toda aquela caminhada, toda aquela experiência e não queríamos mais continuar. Ele muda seu comportamento e assume uma postura mais agressiva. Nesse momento concluo que as intenções dele, realmente, não eram boas.
De repente, por detrás de algumas ruínas, sai um homem sentado em um camelo e, resumindo bastante esse diálogo que se iniciava com “de onde vocês são?” e terminava com “você precisa nos pagar pelo passeio, pois o meu Deus ajudará o seu”, posso dizer que, Professor Chiquinho e eu, passamos por maus-lençóis e tivemos que “pagar pelo passeio”, quase cinquenta dólares!
Os charlatães, para não me utilizar de outra palavra, sumiram nas areias do deserto e nós dois voltamos ao platô para vermos as outras pirâmides, se é que iria dar tempo…
Por hoje, vou ficando por aqui, mas não deixe de acompanhar a continuação dessa aventura em terras egípcias.
A intenção desta sequência de artigos não é fazer uma abordagem considerando os aspectos culturais, técnicos e arqueológicos da egiptologia, mas sim, levar ao leitor uma visão das minhas próprias experiências e observações obtidas em solo egípcio. Pretendo, porém, escrever um artigo mais primoroso no futuro, abordando as visões consolidadas (da ciência; da arqueologia; da egiptologia; do esoterismo e da espiritualidade), sobre o Egito.