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Analisando a Cosmologia Chinesa

Hoje iremos falar um pouco sobre como filosofia chinesa explica gênese do Universo. Será que os orientais teriam a mesma visão que os ocidentais, acerca deste assunto? Isso é o que vamos ver neste artigo.


Um dos livros que aborda a cosmologia chinesa, também um dos mais antigos do mundo, é o I-Ching. Ele nos traz uma visão muito particular sobre o assunto, sem abordar a nomenclatura de um Deus, ou divindade, mas conceituando este arquétipo dentro do mesmo estado de potencial puro, a partir do vazio, nomeando-o como WU-CHI, o estado primordial.


O WU-CHI, também grafado no ocidente como WU-JI, é representado como um círculo. Esse círculo seria o mesmo campo de possibilidades da física quântica, que, como o próprio nome já diz, tem, em si, uma tal concentração de energia, que qualquer coisa poderia ser originada a partir dali.

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É claro que eu poderia até mesmo inverter essa associação, dizendo que a física quântica se baseou nos conhecimentos antigos para estabelecer suas bases mais profundas de raciocínio, afinal, o I-Ching, o livro das mutações, de aproximadamente três mil anos atrás, é muito mais antigo que a sistematização da mesma, em 1920, por Max Planck.


O WU-CHI é considerado uma unidade potencial organizada, estática, porém, seguindo o conceito da Entropia, da Lei da Termodinâmica da Física, ele tenderia à desorganização e, consequentemente, ao movimento. Sem o movimento, não haveria a possibilidade da existência do tempo e, por esse motivo, ninguém pode saber há quanto tempo atrás isso aconteceu.


Em algum momento, toda a energia concentrada em WU-CHI, como numa explosão, se manifestou em movimento e deu origem a duas forças opostas e complementares chamadas de Yin e Yang, que foram representadas por dois monogramas (Liang Yi), sendo que o Yang possui duas linhas sobrepostas não-seccionadas e o Yin, duas seccionadas.

As duas forças correspondem às extremidades polares, já que Yang representa o longe, o alto, o calor, a luz, o forte; enquanto Yin representa o perto, o baixo, o frio, a sombra, o frágil. Essa explicação é bem lógica se considerarmos que, para que haja qualquer movimento, precisa haver o deslocamento de um ponto A (Yin), para um ponto B (Yang), em uma determinada velocidade. 

Os chineses representaram esse princípio através do símbolo Tai Chi, ou Tai Ji, que conhecemos. Este símbolo reúne as duas forças Yin e Yang dentro de si, sendo o Yang a parte branca e o Yin, a parte preta. Podemos notar que existe um pequeno círculo branco em Yin e um outro preto em Yang. Esses símbolos são chamados de Jovem-Yang e Jovem-Yin, respectivamente. Essa representação se dava pelo fato de considerarmos o processo intermediário de transição de algo, como por exemplo: o alvorecer (Jovem Yang), o dia (Yang), o anoitecer (Jovem Yin) e a noite (Yin). Note que o próprio formato do símbolo já sugere um movimento cíclico.

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Tendo como base a Teoria da Relatividade de Einstein, se temos o Espaço, também temos o Tempo e, anexo aos dois, a velocidade, que determinará o tempo de deslocamento pelo espaço, a partir do ponto A, ao ponto B. Sendo assim, o movimento de Yin e Yang mantém-se constante desde então.


Os antigos chineses começaram a observar a natureza, o seu funcionamento e concluíram que, durante um ano, ela assumia quatro padrões de comportamentos diferentes. Foi então que surgiu a definição das quatro estações. Eles as representaram através de quatro bigramas (Si Xiang), mutações do Yin e Yang. Existem diversas versões sobre as associações das estações do ano com os bigramas, mas o princípio básico convergente em todas é que o bigrama Yin (com duas linhas seccionadas) seria o inverno e o bigrama Yang (com duas linhas não-seccionadas) seria o verão. O outono e a primavera podem variar, dependendo da escola.

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Com o tempo, essas observações foram evoluindo e a compreensão do funcionamento da natureza foi sendo aprofundada. Isso fez com que eles desenvolvessem os oito trigramas (Pá-Kuá, ou Bá-guá), mutações dos quatro bigramas, que representavam: o céu; o fogo; o lago; o vento; a terra; o trovão; a montanha e o metal.

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Assim como a ciência ocidental buscou entender o funcionamento do Universo partindo do macro-observável, ao micro-observável, os chineses também o fizeram há milênios atrás e, após a consolidação do entendimento das mutações do Pá-Kuá, desenvolveram o sistema dos sessenta e quatro hexagramas, que eram micromutações dos trigramas anteriores.

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O I-Ching teria se formado a partir de então, sendo considerado tanto um livro de sabedoria, como um oráculo. Ele explica como todo o Universo teria se formado, a sua cosmologia e também como se dão os ciclos da natureza. Devido a ser um livro com tamanha abrangência, passou também a ser utilizado como um oráculo, pois teria como base as próprias leis da natureza e suas tendências.


Muitos escritores ocidentais estudaram o I-Ching e fizeram trabalhos importantíssimos, baseados nele. Desde a filosofia, com Richard Wilhelm, até a psicologia e psicanálise, com Carl G. Jung, o I-Ching vem trazendo abordagens diferenciadas para os padrões ocidentais.


Para os taoístas, todo o funcionamento do Universo, incluindo suas próprias Leis e padrões seguem o Tao. O TAO, ou DAO, é o conceito de vazio, não tem definição, forma, posição, pois qualquer definição que pudesse ter, forma, ou posição, já estaria dentro dos limites de sua criação, não podendo abrangê-lo como é, de fato. 


Todas as coisas que existem só poderiam se originar do nada, pois não seria possível que algo já criado pudesse criar a tudo o que existe, devido ao fato de ele não ter criado a si mesmo. Sendo assim, o TAO teria a capacidade de gerar a tudo o que existe, incluindo o estado primordial de WU-CHI, que seria oriundo dele. 


Se formos pensar em WU-CHI como sendo o Plano das Ideias de Platão, ficaria mais fácil de entender, pois, a partir dele, já seria possível acessarmos os arquétipos de tudo o que existe, ou tudo o que pode ser criado. É possível também associar os arquétipos aos próprios hexagramas desenvolvidos pelos antigos chineses, já que representam uma grande gama de aspectos da vida.


Talvez por isso Carl G. Jung, ex-aluno de Sigmund Freud (considerado o pai da psicanálise), tenha estudado tão a fundo o I-Ching e desenvolvido toda a análise do impacto dos arquétipos na psique humana.


De fato, nenhum de nós tem como concluir nada, efetivamente, acerca da criação do Universo, pois seriam muitas as variáveis a serem consideradas e analisadas para fazê-lo. Não sabemos como isso tudo aconteceu e as leis da física que conhecemos, se baseiam em nossa realidade atual, com métricas determinadas após este momento crucial, mas não teríamos como calcular o comportamento das partículas em uma realidade onde tudo poderia ser diferente do que é agora.


Tendo em mente que só podemos juntar os pontos, é muito interessante observarmos todas as abordagens antigas feitas sobre o tema, principalmente, se foram feitas por culturas e povos diferentes, de locais bem distantes no globo, pois as semelhanças de narrativas nos fariam aproximar um pouco mais do que realmente possa ter acontecido, com certo grau de assertividade, já que os povos não teriam como locomoverem-se tanto, sem o desenvolvimento da tecnologia.


Como exemplo, podemos ver que a Teoria do Big Bang, a mais aceita pelos físicos atualmente, se assemelha bastante ao conceito trazido pela cosmologia chinesa, no que tange a uma concentração de energia muito elevada em um único ponto, que, ao explodir, gerou todos os elementos que conhecemos hoje, subdividindo-os e criando diversas outras combinações. 

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