Certa vez um garoto empinava sua pipa vermelha, pela primeira vez. Passou ali vários momentos de alegria. Enquanto observava quão longe ia sua pipa, imaginava como seria estar ali em cima, vendo o mundo inteiro lá embaixo.
Em determinado momento, percebeu que uma outra pipa erguia-se no ar. Era uma pipa azul, mas não podia ver quem o empinava. Passou a observar e admirar as duas pipas no céu, associando-as a dançarinas celestiais.
Enquanto contemplava esse momento, percebeu que a outra pipa se aproximava da sua e imaginou que seu dono queria interagir com ele. Então, fez questão de tentar demonstrar que também teria tal intenção. Como não sabia conduzir muito bem a sua pipa, a fez rodopiar duas vezes no ar, mas imaginou que o outro iria entender.
Passou-se alguns minutos e a pipa azul estava cada vez mais perto dele, o que o deixava bastante entusiasmado, porém, seu entusiasmo acabou em seguida, pois sua pipa não mais estava sob seu controle e agora encontrava-se em queda livre... O garoto encheu seus olhos de lágrimas, profundamente triste, pois não havia entendido o ocorrido, justamente quando estava indo interagir com a pipa azul.
Ao ir para casa, decepcionado, encontrou-se com o seu pai e explicou-lhe, chorando, o que tinha acontecido. Seu pai compadeceu-se dele e disse-lhe que, na verdade, sua pipa havia sido cortada pela pipa azul, que continha cerol na linha.
Neste momento, o garoto enfureceu-se e sentiu-se traído, pois acreditava que a pipa azul aproximava-se da sua para fazerem amizade. Em seguida, pediu para seu pai ensinar-lhe como fazer cerol, para que ele pudesse cortar a pipa azul também, mas seu pai não o ensinou, dizendo-lhe:
— Filho, muitas vezes seremos machucados por pessoas que acreditamos serem boas ou que tenham boas intenções, mas isso não nos dá o direito de machucá-las igualmente. Compraremos outra pipa para você.
Então, o garoto respondeu:
— Mas, não é justo, pai! Eu perdi minha pipa sem fazer nenhum mal! Ele me enganou, me fazendo pensar que estávamos fazendo amizade. Quero cortar o dele também!
O pai lhe diz:
— Não foi justo, filho. Mas, também não será justo culpá-lo por sua interpretação das ações dele. Você foi quem julgou que ele teria tais intenções de amizade. Nós não podemos julgar as ações das pessoas premeditadamente. É claro que você não conseguiria impedir o corte, já que era a sua primeira vez.
— Mas, você está dizendo que eu sou o culpado, pai?
— Não, filho. Eu não estou dizendo que você é o culpado. Todos nós temos a tendência de criarmos expectativas sobre as pessoas, mas temos que entender que elas podem não corresponder a essas expectativas.
— Mas, todas as vezes que eu for empinar vou ter minha pipa cortada? Por que não posso aprender a fazer cerol?
— Filho, assim como na vida, aprenda a empinar a sua pipa, não a fazer cerol. Aprenda a estabilizar a sua pipa, aprenda como manobrá-la com maestria, não a fazer cerol. O cerol é uma arma e foi criado para machucar. Machucar os outros nunca te tornará mais forte, ou mais habilidoso, pelo contrário, te tornará mais dependente da arma, cada vez mais, vingativo e competitivo. Seja feliz ao empinar a sua pipa, torne-se tão habilidoso nisso, quanto puder. Esse é o melhor caminho.