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Observar, Aprender e Pacificar

Muitas vezes nos perguntamos se seria possível que a sociedade fosse mais amorosa, menos conflituosa, menos cega etc. O que não percebemos é que, na grande maioria das vezes, nos posicionamos acima da mesma quando pensamos ou falamos dessa forma. Estaríamos, nós, realmente acima da sociedade?


Vivemos sendo bombardeados com opiniões, posições políticas, econômicas etc. Quando nos atentamos, percebemos que qualquer informação que recebemos se torna tendenciosa, seja para um lado, ou para o outro. Essa questão deve ser observada com rigor, caso queiramos enxergar as coisas com mais clareza, afinal, vivemos em uma realidade dual, onde os opostos estão sempre em evidência.


O fato é que, dificilmente somos educados, ou estimulados, a buscarmos compreender os dois lados, as duas versões, as duas visões. Sempre fomos pressionados a tomarmos uma posição, a escolhermos um lado e defendê-lo, a todo o custo, para que no final deixemos o outro sem defesa e acreditemos que o nosso lado é o correto, de que temos a razão. Essa pretensão, bem como o inflar do ego, faz com que essa “competição disfarçada” esteja sempre ocorrendo para que se “vença o melhor”.


Ao aprofundarmos o nosso olhar em relação a essa infeliz realidade conseguimos entender que, até um determinado ponto da discussão o tema poderia ser discutido, porém, após um momento específico, a questão começava a ser sobre quem seria o certo e quem seria o errado; quem seria o bom e quem seria o mau. Tendemos sempre a basear uma discussão em nossos "próprios" pontos-de-vista, mas não damos espaço à observação e consideração legítima de nosso interlocutor.


Todo o conflito se dá, unicamente, por existirem dois lados. Não seria possível que um conflito pudesse se estabelecer, sem que houvesse um ponto de controvérsia. O maior problema se dá porque não conseguimos nos libertar de nossos condicionamentos, que nos impulsionam a enxergar toda e qualquer opinião diferente da nossa, como uma afronta. Diversas mídias, pessoas próximas, ou outros fatores, nos reforçam esse comportamento. Muitas vezes uma outra opinião pode ser até parcialmente a mesma que a nossa, mas porque ela não é igual, um conflito é gerado. 


Acabamos julgando o caráter de um a pessoa pela opinião dela. Isso é um grande equívoco. Não podemos dizer que alguém que gosta de MPB seja melhor do que aquele que curta Samba e vice-versa. Ambos são estilos musicais brasileiros e têm suas semelhanças. Só porque duas pessoas ouvem estilos diferentes, não quer dizer que sejam inimigas! O mais saudável aqui seria conhecer os dois estilos, ouvindo a ambos, aproveitando a oportunidade de adquirir um pouco mais de conhecimento e refinamento musical.


Talvez a nossa maior dificuldade seja a de controlar o impulso de reagir contrapondo os argumentos do outro, tentando impor uma “verdade”, pois esse é o primeiro passo para que um conflito se inicie. Nós fazemos a sociedade e, ao nos tornarmos civilizados, pretendemos trabalhar ativamente para que essa mesma sociedade possa manter-se unificada, sempre buscando conhecer, analisar e tomar decisões assertivas, ponderando os dois lados.


Ao dizermos que a sociedade é muito conflitante, ingênua, violenta, qualquer coisa, devemos tomar muito cuidado para não nos colocarmos em uma posição superior a ela pois, a mesma não sobreviveria como tal, se cada um de nós estivesse pensando, mesmo que em seu íntimo, da mesma maneira, ao nos excluirmos de uma realidade comum.


Que bom seria se pudéssemos sentar e ouvir o que cada um de nós conhece acerca da vida, da realidade que compartilhamos, sem julgamentos. Poderíamos aprender muito, uns com os outros, bem como nos ajudaríamos a compreender melhor as situações que nos são comuns. Que possamos desmagnetizar os nossos corações de qualquer polo já estabelecido, para que estejamos verdadeiramente livres de nossos condicionamentos, sem o impulso de defender uma certa “verdade”, mas com a premissa de expandirmos a nossa consciência, visão e aprendizado, coletivamente.


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