Uma das maiores polêmicas que encontramos, principalmente, nos dias de hoje, é a definição do conceito real sobre a vaidade. Muitas religiões, ou filosofias, falam acerca do aspecto negativo da vaidade, já outras vertentes, ressignificam a mesma, trazendo um outro conceito. Afinal, se queremos falar sobre um tema, de forma geral, precisamos alinhar todos os conceitos acerca do mesmo, para que seja possível uma compreensão igualitária por parte de todos. Neste artigo falaremos, especificamente, sobre a vaidade, sobre seus conceitos, como ela se manifesta e como podemos identificá-la em nossas próprias maneiras de pensar e agir.
O que seria vaidade?
A palavra "Vaidade", em sua etimologia, segundo o Michaellis, vem do Latim “Vanitas", que seria "a qualidade, ou característica de tudo o que é vão". A polêmica sobre a vaidade não se dá, somente, pelo seu significado, mas também pela questão moral que advém dele. O maior problema é que a definição do que seria supérfluo, ou vão, para uns, não seria para outros.
Para algumas pessoas a beleza física é algo que representa o seu ser como um todo, bem como nobreza, saneamento, tradição, etc., mas para outros, ela não possui tal importância, já que, para esses, as pessoas deveriam ser valorizadas pelo que são, independentemente de como elas se apresentam.
Algumas seitas indianas de linhas ascetas, limitam a utilização de algum membro do corpo a tal ponto, que o mesmo acaba sendo atrofiado, justamente para lembrar ao praticante da futilidade do físico e também para que as pessoas possam reconhecê-lo como alguém que dedica a sua vida em prol de sua busca espiritual. Já algumas tradições orientais deformam os pés das mulheres, quebrando-lhes os ossos dos pés, através da utilização de calçados específicos que servem como formas, para que limitem-se aos padrões de beleza tradicionais.
É possível que alguém que se importe com a beleza não veja sentido algum em prejudicar o próprio corpo em busca de algum objetivo espiritual. Da mesma forma, alguém que busca o espiritual com tal afinco, não vê sentido em prejudicar o próprio corpo para se conquistar um padrão específico de beleza. Nestes casos, o corpo físico seria o cerne da discussão. O corpo físico é o fator visível, mas também é possível que a vaidade ocorra no plano mental, da mesma forma.
Como a vaidade se manifesta?
A nível mental a vaidade pode se dar até mesmo quando a pessoa se recolhe, ou se apresenta de forma introvertida, mas não por ser assim, de fato, mas por sentir-se superior aos outros, ao considerar que seja um desperdício de tempo interagir com pessoas tão inferiores a ele. Por outro lado, temos aqueles que buscam conquistar a todos, aproveitando toda e qualquer oportunidade para fazer-se útil, objetivando o reconhecimento alheio. É bom ressaltar que, muitas vezes, tais padrões de comportamento não são conscientes e se manifestam compulsoriamente, enquanto a pessoa em questão não tomar consciência dos mesmos e trabalhar para conseguir modificá-los.
A intenção aqui não é julgar o que seria certo, ou errado, mas sim, estabelecer alguns limites opostos e extremos, para que seja possível nos situarmos.
Podemos dizer que aqueles que não vêem sentido em certas atitudes tomadas em prol desse, ou daquele objetivo, consideram tais ações como fúteis e, sendo assim, são derivadas de algum tipo de vaidade. Aqui percebemos quão complexa é essa definição, quando tentamos estabelecê-la em termos gerais.
Pelo que observamos dos dois extremos, podemos concluir que a vaidade pode se manifestar como qualquer pensamento, ou atitude exagerada em prol de se definir como algo, alguém, ou alguma coisa, buscando o reconhecimento alheio, bem como qualquer destaque.
Se conseguirmos entender a vaidade através dessas observações e conclusões que transcendem à sua própria simples definição, poderemos reconhecê-la mais facilmente, inclusive em suas manifestações mais sutis, dentro de nossos pensamentos e atitudes. A vaidade nos prende a um olhar externo referencial e faz com que nos adaptemos aos padrões alheios e, com isso, mesmo que não percebamos, nos distanciamos, cada vez mais, de nós mesmos, de nossas próprias referências e de nosso interior.
A maioria de nós busca relacionar-se com pessoas verdadeiras, confiáveis, sinceras e autênticas, independente do tipo de relacionamento. O problema é que, raramente, nos perguntamos se nós próprios possuímos tais atributos. A vaidade nos leva para um polo onde nos sentimos destacados dos outros, então julgamos o "melhor" e o "pior". Não percebemos que a posição em que nos colocamos foge à realidade de quem realmente somos, pois, igualmente, buscamos fugir, constantemente, da mesma. Preferimos a ilusão criada, do que a realidade trabalhada. Somente quando pararmos de fugir, tomarmos consciência e começarmos a trabalhar em nossa própria realidade é que estaremos sendo verdadeiros.
O que não seria vaidade?
A vaidade se manifesta sutilmente em várias situações, porém, o que não seria vaidade? Essa questão talvez seja ainda mais difícil de responder, porém, com o que pudemos concluir nos parágrafos anteriores, talvez possamos encontrar essa resposta mais facilmente.
Se entendemos que a vaidade se baseia em extrapolações que consideram o reconhecimento e os padrões externos, podemos entender que qualquer pensamento, ou atitude que não se baseie nesses parâmetros deixaria de ser vaidade. Ao se assumir, verdadeiramente, a realidade e trabalhar assiduamente na mesma, se conquista uma maior autonomia e independência, pois não há mais a necessidade de se utilizar os padrões externos para conseguir “se sentir alguém”.
Pela física, dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, logo, se existimos, o espaço que ocupamos é só nosso. Se cada um de nós possui o seu próprio lugar no espaço, por que lutarmos por ele? Não há sentido nisso. A vaidade só pode nos levar à ilusão da competição e da luta, por isso temos tantos conflitos no mundo. Precisamos reconhecer a pluralidade e nos sentirmos gratos por ela, pois é justamente o fato de sermos todos diferentes, que torna a vida cheia de possibilidades e beleza. Que possamos assumir quem somos, verdadeiramente, sem sermos fúteis, ou vaidosos, ao definirmos quem somos, baseados em um referencial externo, buscando destaque, ou reconhecimento alheio.