Um garoto passou em baixo de uma árvore e olhou para cima. Viu que as frestas existentes entre as folhas construíam um belo mosaico com o céu azul. O Sol fazia seus raios transpassarem por entre toda a copa e a sombra ao chão se tornou tão bela quanto o cenário visto acima, assim o garoto pôde observar.
Surpreso sobre como a natureza poderia criar duas obras de arte simultaneamente, acima e abaixo, com tamanha perfeição, começou a pensar sobre quais seriam seus próprios mosaicos celestes e terrestres.
Iniciou um processo de auto-observação que o levaria a entender que, tanto suas maiores virtudes, quanto as suas maiores dificuldades, deveriam ser tidas como obras-de-arte, que poderiam ser observadas e contempladas por ele próprio.
Com isso concluiu que, na verdade, ele mesmo não seria o céu, nem a terra, nem o mosaico celeste, nem o terrestre. Entendeu que o seu ser real seria o observador e que os mosaicos seriam simples manifestações de sua existência, equiparadas com a árvore.
A observação do garoto o levou a entender que o Sol se move em direção oposta à da sombra, pois: o Sol se punha no Oeste e a sombra, no Leste. Dentro de si ele pôde visualizar toda a obscuridade que existia e verificou a posição de sua Luz Interior, para que pudesse voltar-se a ela.
Ao ver que os galhos das árvores eram, graciosamente, balançados pelo vento invisível, entendeu que o movimento leve e suave pela vida a torna bela e serena. Alguns minutos após essa conclusão, também viu que os pássaros pousaram naqueles galhos e não sentiram medo do seu oscilar. Assim, compreendeu que a confiança no movimento da vida, nos permite voar.
O garoto estava envolto em uma aura sublime de gratidão, amor e reconhecimento pela perfeição, em toda a criação. Entendeu que sua vida não seria só sua, mas de tudo o que se encontrava ao seu redor, pois, assim como o solo que liga a todos nós, também a vida, se manifestaria da mesma maneira.
A visão sobre todas as coisas foi modificada e, ainda embaixo da árvore, percebeu que muitas coisas que fazia não tinham sentido, pois não o levavam para um movimento, mas sim, a uma estagnação; não a uma expansão, mas sim, a uma contração.
Percebeu, por fim, uma folha que caiu daquela árvore, já amarelada, mas ainda bela e pensou que a organização de todas as coisas é tão perfeita, que não existe qualquer motivo para se preocupar, nem mesmo com a morte, pois a morte seria deixar de existir aos olhos, mas não ao coração.
Como aquela folha, só caímos do pé no momento certo, ao estarmos prontos para deixarmos mais um belo raio de Sol passar pelo espaço aberto por nós.
Essa é a beleza da vida.