No mosteiro Zen, após a realização de todas as tarefas do dia, um monge ancião convocou a todos os discípulos e disse:
— Amanhã todos vocês serão testados. Somente quem estiver preparado e realmente comprometido com os ensinamentos irá passar no teste.
Os monges ficaram surpresos e, após um período silencioso, o velho monge prosseguiu:
— Somente aqueles que conseguirem estar neste pátio, totalmente despertos, às 3h47 da manhã, poderão ler um livro com ensinamentos Zen muito mais avançados.
Os monges logo se recolheram e foram dormir. No dia seguinte, aprontaram-se e, no horário marcado, estavam no pátio, sentados em posição de lótus, direcionados ao velho mestre, que carregava um grande livro em suas mãos.
O monge ancião olhou para todos eles e perguntou:
— Falta algum dos irmãos aqui?
Os monges começaram a olhar entre si, verificaram que um de seus irmãos não estava presente e informaram ao mestre. O monge ancião dirigiu-se ao quarto do referido, que estava dormindo.
Chegando lá, o velho mestre deixou o livro na cabeceira do discípulo e voltou de mãos vazias. Ao dirigir-se aos discípulos, disse:
— Aquele que cumpriu com as exigências do teste, recebeu o Livro.
Os monges estranharam tal atitude e, alguns, reivindicaram:
—Mestre, não estamos entendendo: todos nós nos esforçamos para estar aqui, totalmente despertos, para podermos acessar tais conhecimentos. Como alguém que nem mesmo conseguiu acordar no horário, poderia ser digno disso?
O mestre perguntou:
— Realmente acham que estão totalmente despertos?
Os monges entreolharam-se e não responderam ao ancião, que continuou:
— Primeiramente, todos vocês que estão aqui, esqueceram-se do principal, da raíz dos ensinamentos Zen, justamente quando começaram a agir pelo ego. Aprender sem-palavras, esse é o Zen. Nenhum livro seria capaz de conter a abrangência e profundidade dos aprendizados obtidos em uma vida inteira.
Então, um dos monges perguntou:
— Mas, se o nosso irmão se atrasou, como ele poderia ser referência para nós, ao receber o livro, mesmo que ele seja simbólico?
Então, o Mestre lhe respondeu:
— Eu pedi para que estivessem aqui, neste pátio, às 3h47 da manhã, totalmente despertos e o único que está aqui, desde o horário combinado e totalmente desperto é o nosso irmão...