Muitos de nós temos algumas conclusões sobre o que seria o "caminho correto", mas sempre o baseamos em nossas próprias experiências. Quando tentamos ajudar alguém, devemos ter cuidado com a abordagem que fazemos, pois o nosso caminho, as nossas próprias conclusões acerca da vida, podem não ser as mesmas da outra pessoa. Como diria Carl G. Jung: "Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”.
É comum que esqueçamos que, durante nossa trajetória, também recusamos muitos "conselhos", pois, na verdade, queríamos - e precisávamos - ter uma determinada experiência, uma determinada conclusão sobre aquele determinado tema. Fixamos os nossos aprendizados em nossa mente, mas costumamos não nos lembrarmos do processo que empreendemos até que chegássemos a tal convicção.
Justamente neste ponto acabamos errando, quando não nos atentamos ao processo alheio, ao respeito à caminhada de cada um. Se realmente queremos ajudar alguém, devemos confiar neste alguém, tão profundamente, que o mesmo a perceba transbordando de nós, até ele. Isso cria um sentimento de aceitação, de não-resistência, de respeito e amor, tão grandes, que a pessoa passa a se sentir responsável, incondicionalmente, por suas ações e tomará suas decisões com total ausência de influências de nossas opiniões pessoais. Isso lhe trará clareza!
Agindo através deste viés, estamos sendo empáticos, ao respeitarmos a autoridade que é o outro. Se conseguimos compreender que somos deuses em manifestação, também devemos reconhecer a divindade que é a outra pessoa. Ela está criando o próprio caminho, dando seus próprios passos, que lhe conferirão autoconfiança e autorresponsabilidade para lidar com a vida. É fantástico o processo que cada um de nós empreende para compreendermos melhor a vida e a experiência na matéria.
A alma humana, independente do corpo, é puramente vida, amor e luz. Devemos enxergar esses atributos, primeiramente em nós mesmos, depois em cada pessoa que existe ao nosso redor. Somente dessa forma estaremos nos libertando de todo o julgamento acerca de um determinado "caminho certo", pois podemos partir de pontos diferentes, seguindo por caminhos diferentes, vendo coisas diferentes, mas chegando ao mesmo lugar. Assim ocorre com quem sai do Amazonas para Brasília, objetivando encontrar com alguém que está saindo de São Paulo para lá: ambos se encontram no mesmo lugar, porém, passam por caminhos e paisagens diferentes.
Cada caminho é único e essa é a beleza da criação. Não há sequer uma experiência igual à outra, já que a intenção do Criador era experimentar, de diversas formas, a vida na matéria. Costumo dizer que, seguindo pela Lei da Correspondência ("o que está em cima é como o que está embaixo; o que está embaixo é como o que está em cima"), posso dizer que, da mesma forma que criamos nossas maquetes e desejamos saber como seria viver ali, também essa possa ter sido a Intenção Primordial da Criação.
Entendendo que possuímos a mesma essência para que possamos vivenciar experiências diferentes, conseguimos uma visão mais elevada que nos repele de estabelecer quaisquer julgamentos sobre o outro. Seguindo por esses parâmetros, por termos a mesma essência, estamos conectados e, ao termos essa consciência, percebemos que não faz sentido julgar, pois, ao fazê-lo, estaremos julgando a nós mesmos.
Então quer dizer que não existe um caminho correto? Sim, existe: o interior.
Não temos que olhar para fora de nós, buscando convencer a esse ou àquele de uma determinada “verdade”, mas precisamos, constantemente, verificarmos em nós mesmos as nossas tendências, os nossos vícios, os nossos padrões e aprendermos a lidar com todos eles, até o ponto de eliminá-los. Quando estamos realizando este processo interior, também aprendemos a lidarmos melhor conosco mesmos, aceitando-nos e perdoando-nos e isso, consequentemente, é expandido para todos os outros.
Somente podemos dar aquilo que temos. Isso é uma regra. Se sabemos lidar com as nossas próprias mazelas, nossos próprios erros e traumas, perdoando-nos por completo, também o faremos para com os nossos semelhantes. Da mesma forma, o inverso: quando não estamos bem estabelecidos em nós mesmos, quando preferimos fugir de nossa própria realidade interior, negando-a e escolhendo a revolta como armadura, também projetamos nossas frustrações nos outros e isso se torna cíclico.
Como vimos antes, cada um de nós detém uma certa trilha, percorre um certo caminho, mas, no final, nos encontraremos no mesmo lugar. O ponto é: devemos focar em nossa própria jornada, resolvendo nossas questões interiores para que possamos espargir amor ao nosso entorno, pois esse é o único e verdadeiro valor entre as relações, sejam aquelas que duram alguns segundos na rua, quando nos perguntam as horas, ou aquelas que se estendem por vários anos consecutivos.
Respeito é um substantivo oriundo do latim “respectus”. “Re” vem de “de novo” e “spectus” vem de “olhar”, sendo assim, “olhar de novo”. Quando analisamos essa palavra pela ótica de seu próprio significado original, percebemos que a mesma nos leva a “pensarmos duas vezes”, sobre aquilo a que estamos sendo apresentados. Até por esse aspecto podemos ver que precisamos prestar atenção, escutar, observar, aprender com tudo e com todos, pois, apesar dos caminhos serem diferentes, as experiências alheias, obtidas em algumas partes deles, podem servir como referências para nós, quando nos depararmos com situações semelhantes em nossa própria jornada.
Creio que, com essas análises, já devemos ter compreendido que o fugaz “caminho certo” não existe. A vida não é como um mapa onde devemos encontrar a trilha que leva ao “X”. Cada vida é o próprio mapa e o próprio “X”: a trilhamos e seguimos para chegar à sua própria plenitude, pois a vida dá sentido a si mesma. A vida, pela vida. Vivenciar para viver. Experienciar através da vida, pela vida que se tem.
Que a gratidão, a alegria pela oportunidade de estarmos, todos, convivendo neste exato tempo-espaço na Terra, possam estar presentes em cada um dos corações. Que não mais nos dividamos buscando definir o certo ou errado, pois cada visão diferenciada encontrada é complementar à nossa própria e nos leva a níveis de compreensão, aceitação e humildade reais, mais elevados. Que o seu caminho possa ser vivido plenamente e que a sua jornada interior possa te levar para a imensidão do Universo que é você, através do portal de seu coração.