O consumismo tornou-se um péssimo hábito praticado pela sociedade moderna. Não nos damos conta de quantos males ele pode nos causar, porém, somos levados a pensar de forma programada, quase que instintivamente, a partir deste princípio. Questões emocionais, ou mesmo psicológicas podem ser desencadeadas, justamente pelas consequências de tal “modus operandi”. Neste artigo vamos discutir um pouco mais sobre isso.
INTRODUÇÃO
Compra e venda. Oferta e demanda. A base de todo o sistema capitalista se baseia nisso. As pessoas buscam algum meio de empreender e desenvolvem marcas e produtos, oferecem serviços e soluções, que visem sanar determinadas necessidades específicas. Quanto mais pessoas buscarem por determinado produto, ou serviço, mais vendas a empresa fará e, consequentemente, lucrará proporcionalmente.
Não haveria nada de errado nisso, se não fosse a forma como boa parte das empresas abordam as pessoas, utilizando-se de uma manipulação psicológica, moral e social, que as impele a consumir. À primeira vista, seriam só negócios, porém, como vamos ver, isso vai muito além do que simples ações de compra e venda, ou de oferta e demanda.
Precisamos entender que, muitas vezes, não necessitamos de certos produtos, ou serviços, porém somos convencidos de que precisamos. As propagandas, o marketing, nos envolvem de uma forma tão precisa e manipuladora, que acreditamos que somos mais importantes, melhores, ou mais felizes, porque adquirimos determinada coisa. Nos convencemos de que necessitamos daquilo para nos sentirmos bem.
A MÁQUINA
Muitos acabam comprando cada vez mais, e se envolvem em dívidas crescentes, justamente por acreditarem que consumir seria a melhor opção. Isso é um grande problema, já que se dá muito mais valor às coisas externas, do que a si próprio, ou às suas condições, pois a pessoa escraviza-se, ao aderir a uma necessidade fabricada artificialmente.
O princípio da escassez também contribui muito para a manipulação em prol de desenvolver o consumismo. As pessoas não têm qualquer necessidade de adquirirem tal produto, mas por ouvirem dizer que aquela oferta poderia encerrar-se em breve, adquirem-no para que possam sentir-se em paz, por não terem perdido a oportunidade.
A ansiedade, tão comum ultimamente, tem relação direta com o imediatismo e o consumismo. Por não conseguirem vivenciar o presente, os anseios futuros, bem como o vazio interior de pessoas, impedem-nas de situar-se e serem gratas pelo momento presente. Isso faz com que as mesmas só consigam focar naquilo que não têm, pois não conseguem enxergar, no presente, aquilo que já têm.
Não observamos que, ao cultivarmos o desejo de obter algo, assumimos, de forma inconsciente, que já não temos. Por isso corremos para preencher esse "vazio" existente em nós, comprando. Os especialistas sabem disso e provocam o desejo, através do sentimento causado nas pessoas com suas propagandas, que instigam o consumo compulsivo e imediato.
ESTRATÉGIAS
A criação da cultura com base nas propagandas também faz com que uma sociedade inteira tenda a ser moldada em parâmetros que dizem o que é adequado (certo) e o que é inadequado (errado). Com base em tais parâmetros, as pessoas se mobilizam para comprarem aquilo que todos compram, para comerem aquilo que todos comem, para vestirem o que todos vestem etc.
Da mesma forma que as propagandas criam cultura, o oposto também ocorre, já que a própria cultura pode levar a uma estratégia de marketing direcionada à mesma. Datas religiosas, por exemplo, até hoje são modificadas em seus sentidos originais, para que possam ter alguma conotação positiva, que motive o consumo.
Se tratando de um país como o Brasil, onde os feriados religiosos, em sua maioria, são católicos, percebemos que o sentido do Natal, que é o nascimento de Cristo, teve associado a si, a história de São Nicolau (vulgo Papai Noel, ou Saint Claus), que presenteava as crianças carentes. Com isso, o foco deixou de ser a reflexão (ou penitência, em termos católicos) e passou a ser a distribuição de presentes.
Outros exemplos são o Carnaval (Carnis Levale) e a Páscoa, que não teriam qualquer relação com desfiles de escolas de samba, ou coelhinhos que botam ovos!
Primeiramente, o carnaval seria um período sacro, de jejum e meditação, que prepararia o espírito para a data da páscoa, que seria considerada — pelos Judeus — a fuga e a libertação do povo hebreu do Egito, ou — pelos Cristãos — a ressurreição de Jesus. Existem vários outros exemplos, mas acredito que esses já sejam suficientes para entendermos como tudo isso se dá.
CONSEQUÊNCIAS
Grande parte das pessoas coloca-se em um ritmo de trabalho frenético, justamente para conseguir pagar as dívidas que fez em prol de alguma motivação específica. Isso cria um estresse tão grande que a mesma sente que deve exercer sua profissão para pagar as contas, e não para fazer algo de que realmente goste. O ser humano subjuga-se ao colocar sua vida em função disso.
Um outro problema é que, muitas pessoas, apesar de serem convencidas pelo marketing de que tal produto ou serviço lhe será extremamente necessário para a sua felicidade, não detém recursos financeiros suficientes para realizar determinada aquisição, o que lhes gera uma grande frustração. Esse sentimento poderá ser controlado até certo ponto, mas tenderá a evoluir de alguma forma.
No "melhor" dos casos, a pessoa se colocaria em uma posição de conformidade com sua situação, podendo entrar em algum grau depressivo, porém, no pior deles, a ira por sentir-se inferior geraria um sentimento de vingança, que manifestar-se-ia na usurpação de algum bem alheio e/ou mesmo na agressão àqueles que detiveram as condições financeiras ideais para a adquirir tal bem.
CONCLUSÃO
Aqui aprofundamos algumas das implicações que o consumismo traz a nível humano-social. Nem sempre estamos atentos a tantos detalhes, porém, devemos estar sempre vigilantes e conscientes de toda essa sistemática criada para que o consumismo possa permanecer. É óbvio que não há nada de errado em criar um negócio próprio, ou empreender, desde que o mesmo não venha a manipular a mente e a conduta das pessoas e de toda uma sociedade.
Quanto mais conscientes estivermos acerca desses detalhes, menos sofreremos por desejos que não foram realizados, por padrões que não puderam ser atingidos, ou por quaisquer outros mecanismos que estejam vinculados à manipulação das massas.
A parte material é necessária para que possamos estar condizentes com a realidade que vivemos, porém, não se faz a única esfera de atenção e interação humana. A alma, o espírito e a personalidade devem ser trabalhados e também atendidos em suas necessidades. De que vale sacrificar tudo isso em prol de trabalhar para atender a padrões estabelecidos por outros? Será que a felicidade poderia, realmente, estar sendo plena nesses termos? Que possamos estar conscientes disso…