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Hora Certa

Sempre ouvi dizer que precisamos estar na hora certa, no lugar certo, para que as oportunidades de realizarmos aquilo que almejamos possam se manifestar. É claro que também é dito que precisamos aproveitar essas oportunidades para que não nos arrependamos depois. Ao mesmo tempo, uma outra vertente fala sobre estarmos em um fluxo contínuo, de perfeição cabal e que tudo o que tiver de acontecer, acontecerá, como se fosse um “destino”. Enfim, a discussão deste artigo se baseia em encontrarmos um ponto de equilíbrio entre essas duas linhas de pensamento, pois, como diria Trismegisto: “todos os opostos podem ser reconciliados”.


o posicionamento


Na sociedade em que vivemos estamos sempre em busca de um caminho que nos faça chegar a um objetivo específico que, quase sempre, está baseado em algum padrão comum. Queremos ser diferentes, mas possuímos os mesmos objetivos da maioria. Traçamos nossa rota baseados no hoje, calculando o amanhã, porém, não consideramos as mudanças que vamos tendo durante o trajeto.


Quando realizamos um investimento, verificamos a taxa de juros aplicada sobre o capital investido e isso define o lucro que teremos, porém, nunca devemos deixar de calcular a inflação! Se o montante que lucrarmos com os juros for igual ou inferior à inflação, teremos perdido dinheiro, pois poderíamos ter investido em algo com maior lucratividade.


A inflação pode ser definida como o aumento nos custos dos produtos e serviços, que se dá mediante à passagem do tempo, ou seja, o custo de vida. Se levarmos esse mesmo conceito ao planejamento de nossa vida, acabamos percebendo que não consideramos o quanto de nossas vidas custará seguir tal caminho, já que não sabemos, de fato, como estaremos daqui a alguns meses.


Se seguirmos por essa abordagem, não seria de se espantar, caso não enxergássemos certas oportunidades, ou rotas que não tivessem sido consideradas em nossa visão inicial. Esse é um grande problema, pois mudamos com o tempo, já que amadurecemos durante a vida. Seria um grande erro limitarmos quem nos tornamos, com toda a experiência que adquirimos, a quem fomos, quando traçamos nosso caminho.


as oportunidades


Acabamos não enxergando as oportunidades que temos, justamente pela estreiteza de nossas visões, limitadas a objetivos imutáveis e imaturos. Estar na hora certa, no lugar certo, pode ter relação, ou não, com aquilo que planejamos. Devemos estar prontos para aproveitar as oportunidades, pois quando as mesmas surgem, não costumam ser adiadas. Mas, como estaremos prontos para elas, se não planejarmos antes? Como conciliarmos o planejamento, com a evolução e mudança constante?


Aqui reside uma chave a ser entendida e é onde, talvez, as duas vertentes de pensamento possam ser reconciliadas. Escolher, rigidamente, um caminho para se aproveitar as oportunidades que surgem dele, é bom, mas muito limitado. Porém, quando isso é aliado a um propósito mais flexível que considera a aquisição de uma nova consciência, através de novas experiências de vida para que se tenham novas possibilidades, também.

Quando escolhemos manter um caminho a qualquer custo, nos privamos de viver. A vida é um mecanismo dinâmico, onde vamos experimentando diversos tipos de aromas, sabores, músicas, viagens, relacionamentos e situações. Em cada vivência adquirimos mais consciência, nossa visão expande-se e novos horizontes se abrem. É necessário que possamos encontrar a nossa verdadeira natureza, dentre todas essas experiências, para que então possamos seguir, alinhados com esse propósito.


Ao descobrirmos essa natureza, seguimos nos aprimorando em coisas que nos levam a enobrece-la. Naturalmente, vamos fluindo leve, alegre e plenamente, de forma que tudo o que fazemos deixa de ser limitado ao nosso ego e passa a ser expandido à vida. O propósito se torna o foco.


Quando nos permitimos viver e experimentar, tornamo-nos mais abertos, livres e com maiores possibilidades. As oportunidades não “aparecem”, mas começamos a enxergá-las, pois sempre estiveram ali. Devido a nossa visão estar mais ampla, nosso leque também se amplia e novas direções podem ser seguidas. 


como acontece


Certo dia, durante uma de minhas viagens, pude perceber que formava-se uma tempestade a alguns quilômetros de onde eu estava. Eu estava em uma cidade do interior do estado de São Paulo, chamada Igarapava. Peguei o carro e fui de encontro àquele evento que parecia ser tão belo, com nuvens carregadas e baixas, bem como alguns raios belos que, delas, surgiam.


Do ponto alto onde estava, não havia quaisquer residências, ou obstáculos que me impedissem de ver o espetáculo da natureza. Sendo assim, comecei a tirar várias fotos, mas, ainda assim, no ângulo em que eu estava, de dentro do carro, senti necessidade de modificar a minha posição para obter uma fotografia mais primorosa.


Algumas fotos tiradas com sucesso, minha meta agora seria a de capturar um raio! Esse era um objetivo audacioso, porém, muito feliz, caso fosse possível realizá-lo. Foi então que comecei a tirar algumas fotos, mas, claro, não estava conseguindo capturar o momento exato daqueles belos fogos no céu, com tamanha velocidade.


Comecei a tirar fotos sequenciais, na tentativa de que alguma delas pudesse registrar aquele evento tão aguardado. Neste momento, me dei conta de que eu estava com um celular, dentro do carro, em meio a formação de uma tempestade, em um local privilegiado, tirando algumas várias fotos, para, em uma das centenas delas, capturar um único raio!


Eu estava preparado, tinha percebido a oportunidade, mas não consegui registrar o raio durante as tentativas. Apesar do aparente fracasso, continuei a registrar o céu com aquelas nuvens belas, mas agora não estava mais obcecado por registrar tal evento. O interessante foi que, em algum momento, tirando as fotos aleatoriamente, cliquei no botão de captura e um raio caiu simultaneamente, o que me fez assustar, como se eu mesmo fosse o “disparador” dele.


Fiquei esperançoso por ter conseguido registrá-lo na hora certa, mas por uma questão técnica de baixa luminosidade, devido ao celular demorar um pouco mais que o meu clique para tirar a fotografia, processando previamente os efeitos, o raio não fora capturado! 


o aprendizado


Devido a ter passado essa experiência, compreendi que existe um equilíbrio, uma linha tênue entre estar preparado e seguir o fluxo da vida, sem privar-se das experiências. Podemos dizer que o raio era a realização do objetivo; o estar preparado, na hora certa e no momento correto, com os recursos necessários, representava a vertente de pensamento fixa, que determina rigidamente o caminho; e que o tirar fotos aleatoriamente, clicando ao mesmo tempo em que o raio caiu, representa a segunda linha, que considera o fluxo natural da vida.


Um, não seria possível sem o outro. A experiência só se torna completa com o equilíbrio entre esses dois extremos: a força de vontade, com a fluidez; a disciplina, com o relaxamento; o planejamento, com a adaptação; o objetivo, com o propósito de vida; o privar-se e o permitir-se. Esses são pontos que considero importantes de serem praticados.