Muitas vezes desconfiamos que algo precisa mudar em nossas vidas, seja em termos de comportamentos, situações, relacionamentos, etc. Em certas situações, ouvimos alguém dizer que precisamos mudar uma determinada questão específica de nossa parte, outras, somos nós mesmos que chegamos a essa conclusão. A questão aqui é por que não mudamos? Por que, mesmo percebendo a necessidade de uma mudança, não conseguimos mudar?
Precisamos nos observar claramente, entendendo como funcionamos e como nos comportamos diante das vicissitudes da vida. A ideia deste artigo é abordar justamente estes princípios que nos movem, nos direcionam e condicionam, a nossa vida e existência, fazendo com que nos mantenhamos nos mesmos padrões, aparentemente, incapazes de nos libertarmos dos mesmos.
Inicialmente, uma coisa é certa: se pensamos em mudar algo em nossa vida é porque já concluímos que essa ação se faz necessária! Iremos perceber, mais adiante, o quanto se faz libertador esse reconhecimento.
Mas, por que é tão difícil mudar, se já sabemos que algo precisa ser modificado em nossa vida? A resposta para isso é simples, porém, a sua aplicação nem sempre o é. Considerando a premissa do parágrafo anterior como verdade, devemos entender que a nossa mente funciona de forma totalmente programada, criando, gerando, nutrindo e mantendo certas rotinas, tarefas e padrões, conforme nós a instruímos, ou a habituamos.
Quanto mais repetimos uma determinada tarefa, mais nos condicionamos a realizá-la em um tempo cada vez menor, com mais desempenho, precisão e facilidade, de forma que o raciocínio, ou a razão, ficam cada vez mais em segundo plano, pois a execução mecânica, bem como os padrões estabelecidos, detêm certa prioridade em nosso sistema, pela lei da conservação de energia.
Nós aprendemos a programar tarefas automaticamente, desde muito cedo, ao entendermos como o mundo ao nosso redor responde a determinadas ações que realizamos. Como exemplo, podemos imaginar um bebê que chora todas as vezes que sente fome. Por que ele faz isso? Porque, empiricamente, ele entendeu que, ao fazê-lo, alguma coisa ocorre e lhe tira o incômodo (fome), que tanto lhe incomoda.
O bebê não teria a capacidade racional para entender que, ao chorar, “a mãe lhe daria de beber o seu leite e, então, ele estaria sendo saciado, consequentemente, sanando a sua fome”, sendo assim, pela própria experiência e, após ter realizado a mesma ação várias vezes, o seu sistema passa a agir de forma automática, todas as vezes que sente fome. Da mesma forma, mesmo adultos, repetimos vários padrões inconscientemente, muitas vezes, sem entendermos os porquês.
Para a maioria das pessoas foi um grande choque emocional quando tiveram de abandonar o seio materno e a chupeta. Essa informação não é acessível para a maioria de nós de forma consciente, mas está registrada em nossos subconscientes. Ao amadurecermos, repetimos vários padrões justamente pelo medo de abandoná-los e sofrermos com o impacto emocional que isso poderia nos trazer, já que a matriz referencial para este tipo de ocorrência já está gravada em nós. Como não a acessamos e nem mesmo temos consciência do porque fazemos aquilo que fazemos, não temos como sair desse looping.
Se não conseguimos acessar diretamente esses aspectos subconscientes, ou mesmo, não entendemos de onde se originam as nossas ações, como poderemos mudar? Devemos entender que, primeiramente, não temos como saber o “como mudar”, sem que antes haja o devido entendimento do "se devo mudar”.
É necessária a conscientização, o reconhecimento das consequências de nossas ações, como elas afetam a nós mesmos e aos nossos semelhantes, para que possamos concluir se devemos mudar algo, ou não. Para definirmos isso, sempre podemos realizar essas perguntas:
- O que faço gera consequências negativas para mim?
- O que faço prejudica outras pessoas?
- Quando deixei de fazer o que faço, obtive melhores resultados para mim e para meus semelhantes?
Se, para qualquer uma dessas perguntas a resposta for “sim”, a mudança se faz necessária. Ninguém muda se não entender o real porquê de uma mudança. Neste caso, podemos passar para uma segunda fase, na tentativa de aprofundar o processo, nos perguntando:
- Quais são as consequências negativas para mim?
- Quais pessoas eu prejudico, agindo dessa forma?
- O que causo a elas, com minhas atitudes?
- Qual foi a atitude empregada para obter melhores resultados?
Talvez possamos não entender todos os porquês de fazermos aquilo que fazemos, mas podemos entender os porquês para não mais fazê-lo. Vimos logo no terceiro parágrafo, repetindo para enfatizar: (...) se pensamos em mudar algo em nossa vida é porque já concluímos que essa ação se faz necessária! (...). A primeira coisa aqui é reconhecer que precisamos mudar.
Não podemos criar outra alternativa onde seja cômodo para nós aceitarmos a mesma posição em que nos encontramos, terceirizando a nossa autorresponsabilidade, afinal, já concluímos, que precisamos realizar alguma mudança em nossas vidas. Isso pode nos parecer assustador no início, mas, com o tempo e o foco que empregamos nisto, percebemos o quão libertos vamos nos tornamos, devido a estarmos novamente no controle de nossas vidas.
Agora que já nos conhecemos o suficiente, podemos estabelecer o “como mudar”.
Baseando-nos em nossas respostas anteriores, logicamente, já temos definidas algumas métricas que nos farão ter uma visão mais clara sobre nossas ações. Como sugestão, deixarei aqui uma pequena lista que ajudará com a criação de novos padrões mais conscientes e elevados para um ser que realmente está buscando elevar-se, mudando sua vida, utilizando-se de sua própria capacidade de auto-observação e autoaprimoramento:
- Lembrar-se, sempre que for estimulado a agir de forma danosa, dos motivos pelos quais deve mudar;
- Estabelecer uma postura emocional, mental e espiritual adequadas, para que as suas ações possam estar de acordo com o seu real objetivo;
- Ao final de cada dia, realizar um exame de consciência, pontuando, desde os seus pequenos deslizes, até as suas pequenas conquistas (aqui não há porque ser desonesto consigo mesmo, já que possui a capacidade inata de se autoavaliar);
- Acordar entusiasmado pela oportunidade de exercer e ver sua própria mudança neste novo dia;
- Dormir, sendo grato por todas as situações em que pôde empregar novas atitudes.
Espero que, com essas dicas, possa situar-se em um novo ser, capaz de modificar-se plenamente, em detrimento de uma elevação consciencial e moral, dominando suas próprias atitudes, sentindo-se feliz, liberto de influências que possam desestabilizá-lo, alcançando seu tão sonhado equilíbrio.