A Esfinge
Um dia sonhei voar. Pensava em pegar um avião para qualquer destino nacional só para ter a experiência de voar. Como trabalhava bastante e em regime CLT, eu só podia fazer algum planejamento se fosse para as minhas férias no final de ano. Contudo, até aquele momento, mesmo em minhas férias, não havia sido possível viajar de avião.
Meu descontentamento existia, porém, não me era limitante. Sabia que um dia haveria de conseguir e que isso aconteceria, mais cedo, ou mais tarde. Juntamente com o desejo de voar, eu tinha o sonho de infância de conhecer as pirâmides do Egito, mas esse era “só um sonho de infância”…
Foi então que, em agosto de 2019, meu amigo, professor de matemática, Sr. Francisco Alves (Professor Chiquinho), fez-me um convite: “Rafa, lembra que havíamos falado sobre irmos ao Egito um dia? Pois é, rapaz, estou te ligando para saber se você gostaria de ir comigo no final de Janeiro do ano que vem”. Claro que sim!, disse eu. E, resumindo todo o processo, lá fomos nós: ele, em sua segunda ida ao Egito e eu, em meu primeiro voo, atravessando o Atlântico!
Chegamos por volta das quatro horas da manhã. Estava frio, fazia-se uns treze graus aquela noite, no Cairo. Chegamos no hotel cerca de uma hora e meia depois. Não havia muito tempo para que pudéssemos descansar, mas o mínimo, já seria muito bem-vindo.
Levantamos cerca de três horas depois, já pensando em aproveitar o máximo de tempo possível para visitarmos o perímetro de Gizé (onde ficam as três pirâmides: Quéops, Quéfren e Miquerinos). No Egito, o comércio fecha às dezesseis horas, cultural e religiosamente falando.
Fomos muito bem-atendidos no hotel em que estávamos, que se localizava a cerca de cinco minutos, andando, das pirâmides (dele, dava-se para ver uma das faces da Grande Pirâmide). Pedimos um café tradicional egípcio, que é mais espesso, contendo a própria borra do café, com um certo toque de pimenta.
Após isso, tomamos nosso café da manhã com água mineral, algumas bolachas, geleias, manteigas e ovos cozidos. Todos os itens, exceto os ovos - claro! - eram industrializados e vinham totalmente fechados e/ou lacrados.
Para quem não sabe, no Egito, não é aconselhável consumir itens que não sejam de procedência conhecida, pois, os hábitos higiênicos culturais não são os mesmos que os nossos, ocidentais, sendo assim, corre-se o risco de contaminar-se com alguma bactéria e de adquirir-se uma intoxicação alimentar. Isso vale, principalmente, para a água!
Após sairmos do hotel, notamos que nas ruas haviam crianças jogando futebol. Existiam ali pequenos espaços que eram utilizados como quadras, onde as pessoas se reuniam para jogar. Me surpreendi ao ver como a cultura do futebol era tão parecida com a que eu conhecia, do Brasil.
Chegamos ao Platô de Gizé. Haviam pessoas de diversas nações no portão de entrada. Sim! Existe um portão de entrada! Para que pudéssemos entrar, deveríamos pagar duzentas libras egípcias, o que daria, aproximadamente, naquela época, cinquenta reais.
Naquele momento, pouco do Sr. Francisco e eu realizarmos a compra do ingresso, fui confundido com um nativo egípcio, ao ouvir e ver um outro egípcio falando comigo em árabe! Tamanho foi o espanto dele, quando disse-lhe que eu era brasileiro! Chamou até mesmo alguns amigos para mostrar-me como um certo “brasileiro-incrivelmente-egípcio”. Disse-me que seria confundido com um egípcio por noventa e cinco por cento da população nativa.
Pagamos e passamos o portão. Logo em seguida, fomos colocados em uma espécie de carroça, puxada por um camelo. Eu não fazia ideia se aquela atitude era normal, ou não, pois para mim, era a primeira vez.
O condutor, rapidamente, começou a conduzir-nos pelo caminho, sem que pudéssemos ter tempo de analisar o que estava acontecendo. Alguns metros para a frente, o Sr. Francisco pediu para que ele parasse, pois poderíamos ir até as pirâmides andando. O condutor insistiu em prosseguir e disse-nos que era muito longe para irmos andando, mas já avistávamos, mesmo sendo uma caminhada de uns 10 minutos a pé, às três pirâmides, sendo que a mais próxima era a de Queóps.
Após um pedido mais enérgico do Sr. Francisco, o condutor para e então descemos, quase pulando da carroça. Mesmo por aqueles cinquenta metros percorridos por sua própria teimosia e insistência, o condutor, queria cobrar cerca de dez dólares, cada. Negamos, e continuamos a nossa caminhada até a ala que conduz à Grande Pirâmide. Achamos desagradável aquela abordagem, a intensa e desrespeitosa insistência.
Durante nossa jornada de subida, passamos pela majestosa Esfinge, que tão imponentemente, se debruça pela história de séculos, nas areias do deserto. Seu olhar é contemplativo e apolar. Seu semblante mantém-se inexoravelmente sereno e sua pungente presença como guardiã anciã daqueles templos e segredos nos faz parar por alguns minutos, admirando-a, registrando a sua forma em nossas mentes e corações, bem como em fotografias.
Tentamos nos aproximar ainda mais dela, mas estava com várias guarnições. Nosso alcance era limitado a uns 10 metros de distância - no mínimo - dela. Não sabemos o porquê dela ter sido tão protegida e isolada, mas, estar ali com ela, A Anciã dos Tempos, era fantástico!
Existem algumas linhas místico-esotéricas que afirmam que a Esfinge detém o maior segredo da raça humana e que, quando esta humanidade estiver pronta, ela o revelará e o mundo todo se modificará. Em realidade, não posso concordar ou discordar disso, pois só tenho a minha própria experiência para basear-me e dizer o que vi e senti: a magistral sensação de estar no início da história humana na Terra!
Não sabemos quem a construiu efetivamente, pois são diversas as teorias. Sabemos que o nome “Esfinge” deriva do grego, e que talvez tenha sido baseado no termo "shesep-ankh", dos egípcios, que significa “imagem viva”. Independente de qualquer coisa, foi exatamente assim que a senti, ao contemplá-la.
Enquanto ali, tentei imaginar todos os antigos episódios da história que tocaram aquele mesmo solo, vistos por aqueles mesmos olhos e, realmente, foi de emocionar…
Se está gostando de nossa aventura em terras egípcias, não se esqueça de acompanhar o próximo artigo (leia aqui), a segunda parte dessa viagem, onde continuaremos nossa caminhada no Platô de Gizé, em meio às pirâmides mais conhecidas do mundo!
A intenção desta sequência de artigos não é fazer uma abordagem considerando os aspectos culturais, técnicos e arqueológicos da egiptologia, mas sim, levar ao leitor uma visão das minhas próprias experiências e observações obtidas em solo egípcio. Pretendo, porém, escrever um artigo mais primoroso no futuro, abordando as visões consolidadas (da ciência; da arqueologia; da egiptologia; do esoterismo e da espiritualidade), sobre o Egito.