Este presente artigo é continuação do segundo, intitulado Minha Ida ao Egito XII (clique aqui para conferi-lo).
Saindo de Dashur, nos dirigimos à cidade de Memphis, que fica localizada a cerca de nove quilômetros de distância de lá. O guia nos explicou que lá haveria um museu com alguns itens muito interessantes encontrados nas redondezas.
Assim como em Dashur, tivemos que passar por aquela espécie de alfândega para podermos acessar as imediações do museu, pagando oitenta Libras Egípcias no ingresso. Em poucos minutos já estávamos em frente ao Museu de Memphis.
A tradução livre da placa da entrada diz:
“Falar do Egito sem mencionar Memphis é como falar da Itália sem fazer referência a Roma. Este Patrimônio Mundial da UNESCO foi a primeira capital do Egito, fundada pelo rei Meni (Menes) que uniu o Alto e o Baixo Egito. A cidade de Memphis foi originalmente chamada Inbu-hedj (as Muralhas Brancas).
Memphis também foi o berço do Egito como o conhecemos hoje. O nome latino para o famoso Templo de Ptah da cidade (Aegyptus do egípcio Hut-Ka-Ptah) é a origem da qual deriva o próprio nome "Egito". A localização estratégica da cidade na cabeceira do delta do Nilo mudou ao longo do tempo para acompanhar a mudança de curso do rio. Eventualmente, a cabeça do delta mudou-se mais para o norte, levando à criação da nova capital islâmica do Egito, Fustat, ancestral do Cairo moderno.
Assim como o Cairo moderno, Memphis já foi uma cidade cosmopolita com templos, assentamentos e palácios, alguns dos quais ainda permanecem. Devemos muitos destes monumentos ao Rei Ramsés II, um prolífico construtor que é responsável por algumas das coisas que aqui se podem ver hoje. Entre no nosso museu e dê uma olhada!”
Memphis foi a primeira capital do Egito, após a unificação do mesmo. Fundada por Menés, em 3.100 a.C., há mais de cinco mil anos!, hoje, só podemos ver alguns dos elementos que ainda restaram resilientes à passagem do tempo. Se localiza em torno da aldeia conhecida como Mit Rahina.
Memphis tivera sido escolhida como capital do Egito devido à sua fecundidade de terras, tão férteis, que podemos observar diversos tipos de vegetação nos arredores. O guia nos falou que tiveram de realizar alguns procedimentos no solo abaixo do museu para que não houvesse qualquer risco de abalo nas estruturas que iriam ser construídas.
Ao entrarmos no museu, “demos de cara” com a gigantesca estátua do Grande Ramsés II, que se encontrava em seu descanso mórbido há mais de cinco milênios.
Foi nos contado que o rei Ramsés II foi uma personalidade muito nobre no Egito. Ele teria morrido aos noventa anos de idade, tendo ascendido ao trono aos vinte e quatro. Naquela época era raríssimo que alguém pudesse viver tanto. Ramsés II esteve à frente do Reino durante sessenta e seis anos e seu Império foi considerado o mais próspero já visto até então.
Ramsés era um exímio administrador e militar, devido a ter vindo de uma família de militares, possuía uma expertise em criar estratégias de guerra bem-sucedidas. Ele teria tido vários filhos, porém, somente com sua primeira esposa Nefertari, teve seis, sendo o primeiro - também o mais famoso - Amenófis. Com sua segunda esposa, Iseteneferte, teve, ao menos, mais três: Ramsés, Caemuassete e Merneptá.
A admiração dos egípcios por Ramsés II era tão grande que construíram várias estátuas em sua homenagem, algumas delas a próprio pedido seu, outras, por conta do próprio povo. Essas informações nos foram passadas por nosso guia, mas confesso, tive de recorrer a algumas pesquisas para relembrar certas datas e os nomes dos envolvidos em sua fala.
Essa estátua de Ramsés II havia sido confeccionada para ficar sobre as areias do deserto, podendo ser vista à distância, porém, devido a algum fenômeno natural, a mesma acabou por tombar frontalmente em um lago, num Oásis próximo dali. Por incrível que pareça, a parte que ficou submersa nas águas foi conservada, porém, a parte que ficou exposta foi submetida à erosão natural e foi danificada.
O guia nos contou que a descoberta dessa estátua foi bastante curiosa, já que vários estudiosos já haviam passado pela região e nunca haviam se interessado em retirar a “pedra” submersa do lago, até que alguns exploradores resolveram içá-la para ver do que se tratava. Ali, se depararam com o busto preservado de Ramsés II, o Grande, totalmente preservado! Incrível, não?
Em algumas das fotos acima vemos, em detalhes, o hieróglifo de Ramsés II, em vários lugares diferentes de sua estátua. A perna à frente é padrão de um Faraó, por estar “à frente de todo o Império”. Podemos observar que as laterais demonstram, exatamente, a parte onde a erosão corroeu a parte da estátua que ficou exposta à erosão.
Após analisarmos o colosso de Ramsés II de vários ângulos, bem como ouvirmos as explanações do guia, decidimos sair para acessarmos o pátio externo. Vimos alguns exemplares de hieróglifos nessas rochas expostas, próximas à saída para o pátio exterior:
Quando saímos da parte interna do Museu, fomos ao pátio exterior, onde encontramos vários artefatos, estátuas e peças constituintes de uma arquitetura utilizada na época. Vamos demonstrar alguns desses itens em fotos e colocar uma tradução livre das placas-explicativas dos mesmos, para manter a fidelidade das informações expostas.
Aqui vemos uma esfinge sem nomeação ou referência conhecida, sendo assim, não se sabe dizer se ela representa algum faraó, ou se fora encomendada por um:
Essa é uma ruína oriunda da base de uma coluna que pertencia a um antigo templo:
Sua descrição, traduzida livremente, diz:
“As impressionantes bases das colunas que você vê na frente e atrás de você foram originalmente localizadas na sala do trono do rei Merneptah, filho de Ramsés II. Seu enorme palácio e complexo de templos estavam localizados a poucos passos daqui! Você pode ver suas cartelas esculpidas nas bases à sua frente.
Veja como as bases das colunas parecem muito ásperas em algumas áreas. Você sabe por quê? É porque as bases já foram construídas na plataforma que sustenta o trono do rei. Se você olhar atentamente para a pedra áspera, poderá ver a forma inclinada das rampas que o rei Merneptah usava para chegar ao trono.”
Também vimos esse bela tampa de sarcófago, esculpida em granito vermelho, exposta no pátio externo:
“Os sarcófagos eram feitos de madeira ou pedra. Eles forneceram proteção para o caixão que foi colocado dentro, permitindo uma passagem segura para o submundo.
À sua frente está a tampa de um sarcófago. Você consegue identificar a deusa Nut? Ela está abrindo suas asas para proteção.
Agora olhe atrás de você no outro sarcófago. Examine atentamente as marcações ao seu redor. Esta é uma oração escrita destinada a proteger seu dono, Amenhotep-Huy, um governador de Memphis.
O sarcófago foi encontrado aqui em Memphis, no túmulo de um sumo sacerdote chamado Petiese, que o reutilizou para seu próprio enterro.”
E, para quem ficou curioso em ver o que se encontrava atrás de nós, aqui está:
Também vimos uma outra estátua de Ramsés II, desta vez, sentado:
“Granito Vermelho
Esta estátua representa o Rei Ramsés II com o seu traje típico, usando touca e saia, com vestígios de uma falsa barba ainda parcialmente visíveis. Quando usados juntos, esses curativos formais o tornavam reconhecível como rei.
Você consegue imaginá-lo?
Na parte de trás de seu trono, você pode ver um relevo de três cartelas representando seu nome. Sua cabeça está faltando - você sabe por quê? Como muitos monumentos em Memphis, foi quebrado em pedaços menores para serem usados em edifícios mais recentes.”
Agora, mais uma vez, ele, Ramsés II:
“ESTÁTUA DE RAMESSES II c.1279-1213 aC (19ª Dinastia) Granito Vermelho
Esta estátua lindamente esculpida de Ramsés II tem características musculosas e uma expressão facial severa que representa sua força e poder. Durante seu reinado de 66 anos, ele construiu e desenvolveu várias cidades, templos e monumentos, incluindo a capital administrativa de Pi-Ramsés no Delta do Nilo. No entanto, ele nunca esqueceu seu centro religioso de Memphis, construindo magníficas estátuas como essas para adornar seu grande templo de Ptah.
Dê uma olhada em sua mão direita. Você pode ver a tinta vermelha que ainda permanece em seu pulso? Este é um dos poucos exemplos restantes da cor elaborada que uma vez adornava as estátuas de Memphis.”
Aqui, uma tamareira, vista de perto, para encerrarmos com chave-de-ouro a nossa visita ao Museu de Memphis, uma das mais prósperas capitais do Egito Antigo:
Espero que você tenha gostado! Acompanhe o nosso próximo e último artigo, onde iremos nos aventurar por Saqqara em nosso último dia de estadia no Egito! (Clique aqui para lê-lo).
A intenção desta sequência de artigos não é fazer uma abordagem considerando os aspectos culturais, técnicos e arqueológicos da egiptologia, mas sim, levar ao leitor uma visão das minhas próprias experiências e observações obtidas em solo egípcio. Pretendo, porém, escrever um artigo mais primoroso no futuro, abordando as visões consolidadas (da ciência; da arqueologia; da egiptologia; do esoterismo e da espiritualidade), sobre o Egito.