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O Tempo

Vamos falar sobre o tempo. Eu sempre fui intrigado com essa questão. O que seria o tempo? Ao fazermos essa pergunta sempre pensamos em um relógio, nas horas, etc., mas, será que percebemos que essas são apenas “medidas” do tempo e não o tempo em si? Afinal, um relógio é um relógio, e não o tempo! Se saíssemos da órbita terrestre, que horas seriam? É de se pensar…


Venho lendo, esporadicamente, durante alguns anos sobre esse assunto e o que mais me intriga é que ninguém ainda conseguiu definir o tempo, por si mesmo. Neste artigo irei abordar alguns pontos importantes sobre esse tema, bem como também apresentar uma hipótese do que seria - ou não - o tempo.

mEDIÇÕES DO TEMPO


Para começarmos, vamos remontar à história dos babilônios, na Mesopotâmia e dos Egípcios. Esses povos foram considerados os primeiros a construírem algum instrumento para medir a passagem do que chamamos de tempo: o relógio solar (como conhecido por nós). Devemos considerar que, naquela época, não se tinha essa mesma definição que temos hoje, afinal, isso ocorreu  há milhares de anos antes de Cristo. Tudo o que precisavam era de um sistema que os mostrasse em qual momento do dia estavam.


Quando falamos da palavra “dia”, nesse contexto, estamos considerando somente o período entre o alvorecer e o anoitecer; ou seja, o período correspondente ao nascer e ao pôr do Sol. Para os babilônios, bem como para quaisquer povos naquela época, era de vital importância saber quanto tempo de Sol ainda tinham antes do anoitecer, para que pudessem, ou não, empreender alguma atividade, principalmente se ela considerasse o seu deslocamento.


Depois de muito observarem o trajeto que o Sol fazia no céu, bem como as sombras que o mesmo projetava no solo devido ao seu trânsito celeste, colocaram uma haste dedicada para a observação de suas projeções, o que os fez perceber que elas sempre começavam a partir de uma direção e terminavam na direção oposta.


Começavam a demarcar onde a extremidade da sombra da haste tocava, período por período, e perceberam que o desenho formado era semelhante ao de uma lua crescente, ou minguante, o que hoje chamamos de “meia-lua”. A partir dessa observação, dividiram o dia em 12 partes, definindo as horas do dia e, devido ao formato da Lua ser o de um círculo perfeito, composto por duas metades daquela, entenderam que o período da noite corresponderia à mesma proporção de 12 horas, o que determinou que um dia completo teria 24 horas.


Alguns dizem que o formato da Lua não tem ligação com a descoberta da divisão temporal, mas, naquela época, muito se fazia observando a própria natureza como referência plausível. O homem não interferia no tempo, assim como não interferia nos ciclos da natureza, porém, os ciclos se mantinham constantes, seguindo os mesmos padrões, em perfeita ordem.


Muitos testes foram sendo feitos até que chegaram a uma divisão sexagesimal da hora; ou seja, definiram que a hora possuía 60 partes, os minutos. Posteriormente, foram percebendo que seria possível subdividir ainda mais e, novamente o fizeram, definindo o segundo, como sexagésima parte do minuto. A definição do dia — da Terra — fora obtida.


A partir deste ponto, muitos outros povos começaram a investir seu tempo para pesquisar e aprimorar as medidas do tempo, inclusive, no que tange às definições de semana, mês e ano. É sabido que os egípcios, ainda mais antigos que os babilônios, consideravam que o ano possuía 365 dias, em seu calendário solar, sendo que o mesmo era subdividido em 12 meses de 30 dias, com 5 dias adicionais “fora do tempo”, para celebrar o deus Amón-Rá. Nos tempos de hoje, é como se a festa de Ano Novo durasse 5 dias! Demais, não?


Diversas alterações no calendário ocorreram durante a história, desde as que foram realizadas pelo general romano Júlio César, passando pelo Imperador César Augusto, até chegar no modelo que utilizamos hoje, definido pelo Papa Gregório XIII. Nem todas as civilizações, religiões e/ou culturas seguem este mesmo modelo, obviamente, porém, em sua essência, contam a passagem do tempo de forma equânime. 


Já que todos concordavam — e ainda concordam — com a divisão do dia, em termos de horas, minutos e segundos, restava agora começar a confeccionar relógios que pudessem sincronizar as medidas de tempo definidas por eles, com o real movimento do Sol pela abóbada celeste.


Diversos aparelhos foram construídos para medir a passagem do tempo, sendo que as ampulhetas, depois dos relógios solares, são as mais antigas. Conforme a ciência avançava em termos de mecânica e matemática, outros dispositivos foram sendo criados, como aquele que contabilizava a passagem do tempo por gotejamento.


Esse dispositivo fora criado pelo monge budista Yi Xing, chinês, da dinastia Tang, em 725 d.C. Ele reunia 60 baldes de água, para que correspondessem aos 60 segundos que compõem um minuto. Porém, como a água é muito volátil e suscetível a alterações estruturais por questões climáticas, bem como de pressão atmosférica, obviamente, concluiu-se não ser um aparelho tão preciso. 


Alguns anos depois, por volta dos anos 800 d.C., o califa Harune Arraxide deu a Carlos Magno um relógio mecânico que possuía um cavaleiro que dizia as horas. O califa era de Bagdá, o que pressupõe que os primeiros inventores de relógios mecânicos, sejam os asiáticos. Apesar disso, o Papa Silvestre II foi considerado o inventor do relógio mecânico. Posteriormente, no século XIV os relógios melhoraram sua precisão, apesar de que ainda atrasavam 15 minutos por dia. Já em 1656, surgiu o relógio de pêndulo, por Christiaan Huygens, com os conceitos de Galileu Galilei que, reduziu o atraso para um minuto por semana. 


Toda a problemática se dava em detrimento de fazer com que as engrenagens dos relógios correspondessem à velocidade de rotação da Terra, para que pudessem marcar o tempo com precisão. Foi aí que o avanço científico fez grandes contribuições para o desenvolvimento de relógios mais precisos.


Em 1927 foi descoberta a propriedade da piezoeletricidade, que gera uma vibração em cristais de quartzo, quando expostos a uma corrente elétrica. Essa vibração faz com que os cristais vibrem 32.728 vezes, o que correspondia a exato 1 segundo! Mas, em 1967 o Sistema Internacional de Unidades definiu que a duração de um segundo seria baseado na oscilação do átomo do Césio 133, o que originou os relógios atômicos, os mais precisos até o momento.

Até aqui estamos fazendo um apanhado histórico para entendermos como a civilização humana compreendeu a passagem do tempo e como pôde estabelecer métodos para conseguir medi-la, porém, ainda não entramos na questão da definição do tempo, em si. 

a física e o tempo


Com base em tudo o que foi dito até aqui, entendemos que o tempo, na verdade, nunca foi definido, só medido. Mas, será que conseguimos entender o que é o tempo, só pelo fato de conseguirmos medi-lo? Provavelmente, não.


Segundo a física o tempo é uma grandeza associada ao correto sequenciamento de ocorrências, seguindo um determinado padrão natural. Mas, a observação dos eventos ocorridos em um determinado padrão natural se trata do efeito do tempo, não do tempo em si. Em uma consideração lógica, podemos dizer que o tempo pode ser uma percepção do deslocamento.


Ao tomarmos como base esse raciocínio, percebemos que todas as medidas ou conclusões tiradas acerca do tempo são baseadas em alguma percepção de deslocamento, seja do Sol, pela abóbada celeste, ou qualquer outra forma de deslocamento de um corpo pelo espaço.


Com isso, entendemos que, se o tempo é a percepção do deslocamento pelo espaço, a variável velocidade estaria diretamente ligada a ele, pois, sem ela, não haveria o deslocamento. Logo, podemos concluir que, sem a velocidade, não perceberíamos o deslocamento, ou seja, o tempo.


Para Einstein o tempo e o espaço são conectados e inseparáveis, pelo que ele chamava de Tecido Espaço-Tempo. Sua teoria diz que o tempo é relativo, dependendo do ponto de vista do observador. Para ele, quanto mais rápido um objeto se move, mais lento o tempo passa. 


Em uma de suas considerações, ele dizia que o tempo passava com velocidade máxima para um objeto parado, porém, o mesmo passaria mais lentamente, caso o objeto fosse adquirindo velocidade no espaço. Einstein também nos diz que o espaço é maleável, podendo ser comprimido ou dilatado, em detrimento das massas dos objetos que se encontram nele.


Sabemos que, conforme um corpo vai atingindo velocidades cada vez maiores, sua massa vai aumentando e isso o faria distorcer o espaço-tempo à sua volta, de forma a permitir a sua passagem com tamanha massa. Isso pode ser demonstrado pela famosa equação de Einstein: E=m.c².


Quando pensamos em tudo isso, vemos que, não só o espaço-tempo são inseparáveis, como também a velocidade. Se retirarmos a variável velocidade da equação, não temos o tempo, já que não seria possível o deslocamento. A questão agora é: segundo Einstein, quanto mais formos acelerando um objeto, mais massa ele terá e, consequentemente, o tempo passará mais devagar. Agora, extrapolando essa velocidade, considerando que um objeto pudesse ser exponencial e infinitamente acelerado, a massa dele seria tão grande quanto a do próprio Universo, e ele estaria ocupando uma posição de repouso, totalmente estático, já que não mais seria possível o seu movimento pelo espaço.


Considerando a hipótese anterior como verdadeira, podemos concluir que tanto o objeto totalmente estático, quanto aquele que é acelerado, chegariam no mesmo ponto de anulação do tempo. São direções opostas, mas que chegam no mesmo ponto culminante da inexistência do tempo, sem a velocidade. Isso não é incrível?


Se formos levar isso em conta, a questão da viagem no tempo também seria impossível, já que o objeto teria de se mover livremente, fora das dependências do espaço-tempo, mas a partir do momento em que ele assume alguma velocidade, já estaria arraigado aos limites do mesmo.


Para elucidar, suponhamos que exista uma contagem regressiva acionada para que a Terra seja totalmente destruída pelo lançamento acidental de uma série de mísseis nucleares. Hipoteticamente, a raça humana já teria desenvolvido uma máquina do tempo capaz de viajar para o passado. Nesse momento, um general volta ao passado, momentos antes do acionamento da contagem regressiva e impede o acidente. O que aconteceria?


Pelas teorias tradicionais, o planeta seria salvo dos mísseis. Mas, eu pergunto: a história atual iria simplesmente “congelar”, aguardando as ações do general surtirem efeito? Todo o tempo teria de parar, ou até mesmo retroceder, caso o planeta já tivesse sido destruído durante esse tempo. Isso seria logicamente possível? Imagine todos os átomos retomando a sua posição anterior ao holocausto, toda a poeira, toda a vida! Isso parece ser um absurdo.


Por tudo o que vimos até agora, podemos entender que o tempo, em si, não passa de uma percepção de deslocamento e que a realidade só existe no agora, independentemente de onde estivermos. O tempo, como o entendemos, é uma convenção para medir as rotações e translações da Terra, ao redor de si mesma e do Sol, respectivamente.


Para finalizar, essa é apenas uma contribuição minha, para que comecemos a pensar sobre o que seria, realmente, o tempo. Talvez ela sirva mais como uma provocação, como uma base para pesquisas mais profundas, do que como um ponto-final para a questão. 



 OBSERVAÇÕES:

Poderia citar muitos outros nomes, teorias e invenções, mas essa não era a intenção essencial deste artigo. Me ative somente aos pontos mais importantes e mais conhecidos para facilitar a abordagem e o entendimento.

A palavra “relógio”, deriva da palavra “horologion” (quadrante solar que marca o tempo), do Latim, então, em países que não tinham-no como língua base, não se utilizava o mesmo termo.



REFERÊNCIAS:

https://super.abril.com.br/mundo-estranho/quem-definiu-o-tamanho-das-horas-e-dos-minutos/


Uma viagem no tempo: a história dos relógios


https://pt.wikipedia.org/wiki/Yi_Xing


https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2021/09/como-teoria-da-relatividade-geral-de-einstein-explica-quase-tudo.html


https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/fisica/teoria-da-relatividade


https://brasilescola.uol.com.br/fisica/teorias-da-relatividade.htm


https://pt.wikipedia.org/wiki/Tempo


https://www.em.com.br/app/colunistas/juventude-reversa/2021/10/07/noticia-juventude-reversa,1311993/o-tempo-e-relativo-e-depende-do-referencial-a-partir-do-qual-o-medimos.shtml


https://www.hipercultura.com/10-coisas-que-voce-deveria-saber-sobre-a-teoria-da-relatividade/


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