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Plano vs. Propósito

No artigo anterior falamos sobre a diferença entre desejo e vontade. Neste artigo iremos abordar um item de extrema importância para que se possa viver bem, em plena felicidade: viver com propósito. Mas, antes de falarmos sobre isso, precisamos discernir o “plano”, do “propósito”.


Nós crescemos entendendo que “ter um plano” e “ter um propósito” significam a mesma coisa, porém, estamos errados. A palavra “Plano”, ou “Planejar” vem do latim “PLANUS”, que pode significar “nivelado”, “achatado”, ou “seguir minuciosamente um esquema”. A palavra “Propósito” vem do latim “PROPONERE”, que significa “pôr a frente”.


Como vemos, as palavras têm sentidos diferentes. Para exemplificar, podemos concluir que aquele que possui um plano nivela-se a ações específicas, pois já tem traçadas todas as rotas, todas as fases do processo que vai empreender em prol de chegar a algum lugar; já aquele que tem um propósito, coloca-o à frente de tudo, não importando o que aconteça, ou as rotas que, porventura, vier a percorrer.


Quem vive pelo plano tem muitas dificuldades para lidar com situações adversas às quais possui em seu esquema, pois o plano deve ser seguido “ao pé-da-letra”, não sendo possível alterá-lo facilmente, já que deve-se andar “nivelado”, pois um único passo alterado envolveria todos os outros subsequentes.


Um plano é criado com algum nível de experiência, porém, durante o passar do tempo, se descobre que as experiências vão sendo cada vez maiores, o que torna o plano inicial incompleto, pois não contém as atualizações das experiências obtidas. Neste caso, quanto menor for o prazo para se concluir o plano, menores são as taxas de obsolescência do mesmo, contudo, o contrário ocorre quando o plano é de longo prazo. 


Devemos refletir que, ao planejarmos a nossa vida, estamos estabelecendo um plano de prazo vitalício! Isso pode ser muito, ou pouco, porém, cabalmente, estamos ocupando nossa vida com passos que foram determinados quando ainda nem mesmo tínhamos noção de como seríamos dali a um ano! 


A obsolescência de nosso plano não é considerada como uma variável, quando o traçamos. Na verdade, muitos de nós ainda confundem a nítida insensatez de continuar em um mesmo caminho (mesmo que tudo mostre a nossa inocência inicial ao planejá-lo), com a questão da perseverança e resiliência que tanto são pregadas. Ora, a perseverança, ou a resiliência são atributos adquiridos e cultivados pela vontade de cada um, sob o aspecto da razão, não da emoção. Sendo assim, se vemos que, racionalmente algum plano está dando errado, por quê não adaptarmo-nos? Por que devemos manter esse caminho errôneo?


Falamos sobre o que NÃO seria o propósito. Falamos do que seria o plano. Vamos entender agora como seria o propósito.


Quem vive pelo propósito não se preocupa muito com a questão dos passos futuros que dará, pois o que o norteia, é o seu horizonte-final, seu “pôr a frente” e, dessa forma, qualquer situação que a este se apresentar, será tranquilamente resolvida, já que não havia expectativa do que teria, ou não, de acontecer naquele determinado momento.


Quando um propósito é estabelecido para a vida, busca-se ser alguém mais preparado, mais aprimorado e trabalhado. Considera-se todas as oportunidades de aprendizado que a vida lhe emprega e as contabiliza na soma dos passos dados em direção ao seu propósito. Diferentemente do plano, o propósito é agregador, pois agrega a tudo o que acontece algum valor e também retira de tudo alguma lição. Com o tempo, o aprendizado conduz a um propósito de vida muito mais valioso, do que qualquer plano poderia supor.


Nos dois casos temos a questão de algum objetivo-fim, porém os meios são muito distintos. Enquanto aquele que planeja toda a sua vida foge de tudo aquilo que não condiga com o seus planos (privando-se assim, da experiência), aquele que vive com propósito aprende com tudo o que lhe ocorre de bom-grado, pois seu foco não está na pretensiosa intenção de controlar a tudo e a todos, a cada momento, mas em aprender consigo, com tudo e todos, a cada momento. 


Viver com propósito é estar em constante reconstrução, adaptando-se e enxergando as diversas situações apresentadas pela vida, como chaves de aprendizado, como lições e oportunidades de crescimento e atos de altruísmo.


Contarei aqui um caso, não para expor um amigo, mas sobre como podemos observá-lo e aprendermos sobre nós mesmos.


Certa vez me encontrei com um amigo que disse-me: “Eu não consigo viver sem ela. Tantos planos, tantas histórias…”. Isso me fez pensar que ele não tinha mesmo um propósito de vida, somente planos e apegos! Eu lhe perguntei quais eram os seus valores pessoais e o que ele tinha como propósito de sua vida e ele me disse alguns valores como: “fiel, dedicado, atencioso”, etc. Parecia mais uma daquelas frases que são colocadas em apps de namoro virtual! Com relação ao propósito de vida, ele nem mesmo soube formular uma frase!


Vendo isso, preocupei-me bastante, pois o que ele enxergava como valor próprio, na verdade, estava disfarçado de um pedido de aprovação alheia, ou de justificativa alheia. Percebi que, pelo contexto em que vivia, seus valores tinham relação com o seu término de relacionamento, praticamente questionando o “por que ela me deixou?”, adicionando os valores, “se eu sou fiel, dedicado e atencioso”.  Nenhuma das respostas tinha relação com o seu ser, por completo. 


Se meu amigo tivesse bem definido seus valores para si mesmo, bem como seu propósito de vida, talvez nem tivesse passado pelo término de seu relacionamento, ou talvez nem tivesse começado um, mas o que importa é que alguém que se coloca fora de si e vive em função dos outros, ou contando que os outros satisfaçam seus desejos, no mínimo, irá se decepcionar muito com a vida, revoltando-se contra tudo e todos, pois não entende que a questão “em aberto”, não se encontra com “o outro”, mas, consigo mesmo.


Muitas vezes, já de início, não sabemos o que consideramos um valor para nós. Se esse passo ainda não está definido, qualquer outra conclusão se torna comprometida. Se não sabemos o que é um valor para nós, não sabemos quais são nossos valores, logo, é extremamente difícil traçarmos um propósito de vida. 


Esse propósito de vida é definido com base em valores, em nossa parte mais nobre como seres humanos. Podemos dizer que ele é estabelecido com o descobrimento, aprimoramento e prática de nossas faculdades naturais, aplicadas de forma altruísta, através de nossos valores. Ter esse propósito bem definido nos traz um sentido de vida, uma forma de nos mantermos conectados com nossa essência, cada vez mais, motivados em realizar algo que somente nós podemos fazer em prol da humanidade!


Que vivamos com propósito!


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