Um novo ano se inicia e, com ele, novas oportunidades de realização. Muitos festejam essa passagem no ocidente e consideram que a mesma marque um recomeço, metas que poderão ser cumpridas, ou mudanças que advirão. Existe muita energia e entusiasmo (ou seria empolgação?) com toda essa celebração, o que pode ser muito produtivo, porém, será que, de fato, as nossas ações estão de acordo com o ideal que almejamos?
Por que celebramos?
Existe uma grande ansiedade para a chegada de um novo ano, pois as pessoas, principalmente no hemisfério Sul, estão entrando em férias de verão, seguidas por feriados festivos etc. Depois de um longo ano de atividades intensas, seria justo que pudéssemos tirar um tempo de folga, longe da pressão e do estresse vivido durante todo o ano.
Muitos não gostam daquilo que fazem, não pelo que fazem exatamente, mas por como fazem. Há também quem não goste de sua atividade profissional, mas que permaneça exercendo-a por questões financeiras. Outros adoram o que fazem, mas devido a sua rotina intensa e os prazos muito curtos, cansam-se.
Seja qual for a situação, esse momento festivo torna-se empolgante, pois há uma grande necessidade de recobrar as energias, longe dos mesmos ambientes e rotinas diárias. É incrível como nos sentimos bem neste período! Chegamos até mesmo a pensar que teria valido a pena passar tanto estresse, pois agora poderíamos desfrutar daqueles momentos. Mas essa nossa percepção estaria correta?
Será que a vida seria somente um conjunto de responsabilidades a serem administradas? Será que estamos felizes com a rotina que criamos para nós mesmos? Quantos remédios tomamos para suportar aquilo que nos causa o adoecimento?
A autorrealização
É errôneo pensarmos que qualquer atividade abusiva seja o preço necessário a ser pago para que sejamos dignos de viver alguns momentos de felicidade, como esse. Deveríamos fazer aquilo que mais gostamos, pois nosso trabalho não nos seria desgastante e, ao mesmo tempo, estaríamos muito felizes em realizá-lo. O nosso trabalho já seria a nossa recompensa.
Aquelas pessoas plenamente realizadas com aquilo que fazem, não vêem neste momento nada além de um marco festivo, ou algo parecido. Por serem felizes exercendo suas atividades, não esperam um feriado, ou uma data específica para darem uma pausa, pois já estabelecem seu próprio ritmo de trabalho.
A celebração de um novo ano ocorre de uma forma bem parecida pelo mundo todo, exceto nos países onde ela ocorre em outra data. Porém, isso nos mostra o quanto somos parecidos em nossos comportamentos, em nossas formas de viver em sociedade, em termos globais.
Padrões
Ano após ano vemos que muitas coisas se repetem em todos os níveis de nossas vidas. Alguns padrões, quando positivos, nos motivam a ir cada vez mais longe; porém, outros, nos fazem querer desistir constantemente.
Seja por um emprego ruim, ou alguma situação particular específica, acabamos justificando a nossa incapacidade de decisão com argumentos como: trabalho, falta de tempo, dinheiro, ou outra coisa qualquer.
Talvez essa época comemorativa possa nos levar a um pensamento mais conclusivo acerca do que estamos fazendo de nossas vidas, já que estamos sendo felizes durante tal período comemorativo. É hora de analisarmos nossas escolhas, sobre aquilo que decidimos aceitar, ou não.
Esperamos por um novo ano, acreditando que as mudanças virão com ele, porém isso é só mais uma forma de nos acomodarmos diante da vida. Procuramos mudanças, porém não realizamos mudanças! Isso é uma tremenda incongruência.
Precisamos, de uma vez por todas, entender que toda e qualquer mudança só pode ser realizada de dentro para fora. Muitos dirão que a mudança aguardada não seria de ordem interna, mas sim, externa. Eu respeito tal pensamento, porém gostaria de colocar aqui alguns pontos para que sejam considerados.
Analisando as causas
Toda a causa tem um efeito e todo o efeito tem uma causa. Essa é a Lei da Causalidade, descrita no livro O Caibalion, atribuído a Hermes Trismegisto. Isso quer dizer que cada coisa existente, teria derivado de uma causa primária. Essa afirmação é cabal e pode ser levada a todos os âmbitos da existência.
Considerando tal premissa como verdadeira, devemos observar os fatores, ditos externos, sob esse aspecto. Ao analisarmos mais profundamente, compreendemos que, geralmente, as coisas que buscamos mudar “lá fora”, foram derivadas do pensamento, da ação planejada a partir do interior de alguém, ou de alguns, que a executaram.
Seguindo o raciocínio, concluímos que, se cada um buscasse trabalhar o seu interior, suas inseguranças, seus medos, traumas, e/ou conflitos internos, já teríamos efeitos, ou consequências diferentes em nossa sociedade. Quando buscamos melhorar a nós mesmos, sabemos das dificuldades que encontramos, por isso também, nosso julgamento sobre outrem vai se tornando cada vez menor.
Antes de escrevermos nossas metas para um novo ano, devemos alinhar nossas atitudes, para que não fiquemos somente esperando a solução vir de alguém, ou de alguma situação específica.
o Olhar para si mesmo
Nos colocamos disponíveis até a metade do dia para realizarmos atividades como: trabalho e/ou estudo, durante quase todo o ano. No restante do dia, só temos energia para prepararmos o jantar, cuidarmos da casa e irmos dormir. Que tempo nos sobrará para olharmos para o nosso interior? Talvez seja mais fácil olhar e julgar os fatores externos, já que não temos tempo de buscarmos as respostas dentro de nós, não é mesmo?
No fundo, por mais que pesquisemos, ou que possamos nos considerar atualizados em todas as notícias, ou revoluções que acontecem, estamos somente fugindo desse contato com o nosso ser, então culpamos a alguém, ou a algo. Somos preguiçosos quando o assunto se refere à escuta interior e ao trabalho de autoconhecimento.
As dependências de todo o sistema planejado e criado para um determinado fim, tem como consequência o distanciamento do ser, de si mesmo. Ninguém mais tem tempo para olhar para si, para se dar atenção. Não percebemos que até o alimento que consumimos já está sendo preparado por outrem, quem dirá as nossas opiniões, aquelas que já se encontram “formadas” sobre algo. É de se pensar.
Que seja um novo ano de muita felicidade para todos nós; que as novas metas sejam realizadas; que todas as escolhas possam estar muito bem embasadas em nossos aprendizados anteriores; que nossas ações estejam alinhadas com o nosso propósito e que possamos olhar para nós mesmos.
Feliz Ano Novo!