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UMA EMPRESA SEM FIM


Fundamos uma empresa, mas não estabelecemos a sua finalidade. Abrimos vagas para cargos e funções a serem ocupados, mas não os definimos. Alguns candidatos às vagas se apresentam e, como não temos uma finalidade para a nossa empresa, os mesmos pleiteiam cargos de liderança, de grandes salários e apresentam propostas de coisas que eles próprios querem realizar em prol dela. Devemos decidir qual dos candidatos será o melhor, mas, ao mesmo tempo, não sabemos definir tal quesito, considerando o fato de que não sabemos onde queremos chegar com a nossa empresa, qual a finalidade da mesma. Além disso, devemos assegurar-lhes os seus salários, mesmo que não façam aquilo que prometeram durante os quatro anos seguintes de contrato. Seria possível que essa empresa tivesse sucesso?


Pólis, na Grécia. Um sistema democrático, estabelecido pela própria população que direcionava as decisões a serem tomadas em prol da sociedade, embasada em sua necessidade coletiva e efetiva. Um representante, profundo conhecedor da realidade comum em questão, era escolhido para que fosse a voz dos interesses legítimos da mesma. Dos processos de organização social estabelecidos na Pólis, originou-se a palavra “Política”.


Neste momento, alguns poderão estar se perguntando: “Mas, qual seria a relação do título do texto com o conteúdo apresentado até agora?”. Muito bem, vamos ao esclarecimento dessa dúvida.


Se, aparentemente, o conceito de uma empresa que não possui um fim, uma finalidade específica, não teria qualquer relação efetiva com a abordagem histórica e política da Pólis, por que a fazemos hoje em dia? O que quero dizer com isso é que o que chamamos de Política, hoje, não tem qualquer relação com o conceito inicial da Pólis grega. Ao invés disso, a empresa sem fim, exemplificada no primeiro parágrafo, parece ter, exatamente, as mesmas premissas executivas que vemos hoje no sistema ao qual denominamos “político”.


É triste ver que as pessoas, que deveriam ser o verdadeiro motor social, se dividem através de discussões, defendendo essa ou aquela polaridade, candidato, proposta, ou visão. Elas  realmente estão acreditando que “o seu lado” possa estar certo, considerando uma determinada “política”. Se entendermos o sentido real da palavra, não mais atuaremos em prol deste, ou daquele “lado”, já que tais “lados” foram criados justamente para dividir opiniões, exaltando, cada vez mais, o ódio, a intolerância e a violência, desviando o nosso olhar das questões que realmente importam. 


“Dividir para conquistar”, como diria o ditado, que se faz verdadeiro até os dias atuais. Há algum tempo fiz um post no Instagram falando da dialética, mas, não foram todas as pessoas que puderam reservar um tempo para pesquisar sobre isso, então, de forma resumida, gostaria de abordar o tema.


A dialética, do grego dialetiké, de prefixo “dia” (troca) e sufixo “letiké” (possui a mesma raiz que logos - pensamento/razão), sendo assim, pode ser traduzida livremente como “diálogo racional”. Por padrão, essa técnica era utilizada para estabelecer novas hipóteses lógicas para determinadas situações ainda não totalmente exploradas. Para isso, utilizava-se uma tese, apresentava-se uma antítese e, após diálogo extenso, chegava-se a uma síntese. Resumidamente, a dialética era usada dessa forma, porém, em algum momento, ela começou a ser utilizada da forma inversa, onde, através de uma síntese já definida, manipulava-se o povo, criando uma tese e uma antítese para que o mesmo pudesse dividir-se entre os dois “lados”. Mas, para que dividir a população? Simplesmente porque as pessoas não conseguem pensar fora das polaridades, assumindo determinados postos de julgamento do que seria certo (quando de acordo com suas convicções) e do que seria errado (quando não-concordantes com ela).


DIALETICA, DIALÉTICA

Dialética


Falando desse conceito na abordagem “política”, podemos dizer que, ao dividirmos a população, estamos promovendo a perpetuação da síntese previamente estabelecida. As pessoas acabam por estagnarem suas visões, sendo condicionadas e limitadas a hipóteses previamente definidas, sendo apresentadas, constantemente, a teses e antíteses, o que as impossibilita de enxergarem além. Isso faz com que não nos foquemos em nossos ideais como sociedade, justamente para que não consigamos acompanhar o que será, ou estará sendo feito em prol disso.


De todos os Poderes, daquilo que consideramos “política”, o povo deveria ser um e o mais poderoso deles, não por um falso-moralismo concedido, mas porque efetivamente, o é. O povo é a maioria, é a própria sociedade. O povo unido não tem como ser inferiorizado, pois o poder de uma minoria, que vem sendo mantido por tal síntese previamente estabelecida, não resistiria à força de toda uma população consciente, que agora enxerga mais adiante e não perde mais tempo discutindo sobre assuntos polarizados. Precisamos assumir que nós somos a verdadeira mudança e que não conseguiremos mudar nada a partir de uma visão alheia ao que vivemos.


Devemos perceber que essa estratégia é utilizada em vários âmbitos, não só na política, mas também na religião; no que chamamos de ética e moral;  no canal de notícias ideal; nos times de futebol, etc. Todas essas polarizações são formas de manipulação em massa, que concedem a todos os seus idealizadores, organizadores e executores, o verdadeiro poder. Para a maioria de nós pessoas famosas têm muito poder, porém, aqueles que possuem verdadeiro poder, não têm fama, estão ocultos.


Em um ambiente empresarial, se um diretor possuir dois gerentes de projetos subordinados a ele, e o mesmo quiser que somente um se mantenha na empresa, é bem provável que ele (a síntese), fará com que exista um gerente “bom” (a tese, que ele quer que se mantenha) e um “ruim” (a antítese, que ele quer que se demita). A estratégia que o diretor utilizará será pautada em fazer com que os colaboradores subordinados ao “gerente ruim”, não gostem dele, então lhe fará cumprir metas com prazos extremamente curtos, cobrando-lhe com rigorosidade, bem como também poderá tirar certos privilégios de seus colaboradores, através da ordem do tal gerente, para que eles o reprovem ainda mais. Agora conseguem imaginar como isso acontece em outros cenários, incluindo o “político”?


Considerando tudo isso, será que vale mesmo a pena continuarmos excluindo, odiando, julgando, ou mesmo violentando nossos irmãos por não terem a mesma “opinião política” que a nossa? Será que estamos discutindo “política”, ou terceirizando a culpa por nossas frustrações, em outro irmão? Até quando iremos enxergar opiniões complementares, como opiniões contrárias? Um ponto muito importante para pensarmos é este: nem sempre a nossa necessidade, ou a nossa opinião é igual a do outro, porém, não quer dizer que uma, ou outra, esteja errada, elas são complementares, necessitam de serem ouvidas igualmente.


Temos que parar para pensar, realmente, em tudo isso. Devemos considerar que podemos estar contribuindo, dia após dia, com a manutenção de alguns poucos no poder. O sentido não é derrubarmos, ou prejudicarmos a alguém, mas de percebermos a manipulação que se instaura sem que a percebamos e a paremos, definitivamente! Só assim, através da união em massa, bem como da conscientização e atitude correta, é que teremos chance.


Mas, já que é assim, qual seria a atitude correta? A resposta parte da pergunta feita no primeiro parágrafo, que é o tema principal deste artigo. Devemos, antes de mais nada, saber exatamente o que queremos para nós como sociedade, devemos ter uma finalidade como tal. Precisamos estabelecer objetivos e metas, assim como em uma empresa. Não adianta ficarmos debatendo as propostas de candidatos que se apresentam como “salvadores”, objetivando realizar tarefas das quais não são compatíveis com nossos propósitos. 


Para que uma empresa possa ter sucesso é preciso que a mesma tenha uma finalidade, uma missão, visão e valores bem estabelecidos. É necessário que se tenham objetivos, meios e metas para que se alcancem os mesmos. Nada pode dar certo, principalmente ao se envolver uma quantidade massiva de pessoas, sem organização. É preciso que a população entenda que uma sociedade ideal só será possível com união para que, assim, defina os  meios pelos quais essa união possa prevalecer e, enfim, se estabelecer.


Que saibamos enxergar as manipulações existentes e que não nos revoltemos com os nossos irmãos, pois eles também fazem parte da sociedade ideal que queremos. As redes sociais estão aí para que possamos fazer diferente: podemos instigar a cooperação, os diálogos e a escuta. Nossos antecessores vieram atuando dentro desses moldes da “política”, mas não tiveram sucesso. Será que já não estaria na hora de discutirmos os modelos do que consideramos “política”, ao invés de discutirmos “lados”, ou “partidos”, que, por si mesmos, já pregam a divisão? É de se pensar.


Percebam que o título não é UMA EMPRESA SEM-FIM, mas sim, UMA EMPRESA SEM FIM… Tem uma eternidade de diferença!


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