César era um garoto que cursava o ensino fundamental e havia acabado de mudar de escola. Seus primeiros seis meses estavam sendo desafiadores, pois ele não conhecia ninguém dali. Ele e seus pais mudaram-se de cidade e foi necessária a mudança de escola.
A cidade de onde vinha era no subúrbio e agora ele morava em uma cidade grande, na capital, onde as pessoas tinham outros valores, outros costumes e ideais. Era muito difícil conviver com algumas pessoas dali, que não valorizavam as mesmas coisas que ele. César estava acostumado a olhar para o céu, a assobiar aos pássaros que pousavam em seu telhado, ou na árvore de seu quintal, porém, naquela cidade, sua casa era bem menor e nem mesmo possuía um quintal.
Em sua escola seus colegas de classe olhavam-no com um ar de desdém, ou falavam com ele somente quando fosse necessário. César percebia tudo isso e sentia-se muito mal por ser tratado daquela forma, sem saber o porquê. Todas as vezes que buscava ser autêntico, era julgado, mas quando tentava ser um pouco mais parecido com os outros, também era. Tudo ou nada que fizesse, aos olhos dos outros, estava fora do contexto.
Os dias foram se passando e um trabalho foi pedido aos alunos. A atividade era individual e deveria ser realizada em um formato de seminário. Todos os alunos começaram a fazer algumas pesquisas e anotarem suas ideias no papel, porém, César já sabia como apresentar antes mesmo de realizar a pesquisa, pois ele e seus amigos da escola anterior estavam bem acostumados com apresentações.
Quando o momento da apresentação dos alunos chegou, a professora iniciou o seminário por ordem de chamada e César seria o sexto a ser chamado. Enfim, após os seus cinco colegas, a vez dele chega e ele se dirige à frente da sala para iniciar sua apresentação.
Neste momento, os outros colegas começam a zombar discretamente dele, cochichando uns, nos ouvidos dos outros e sorrindo. Essas atitudes começaram a incomodar profundamente César que, apesar de ter conseguido chegar ao fim de sua apresentação, começou a se sentir muito triste, rejeitado e odiado pelos outros, que o aplaudiram no final, com certa falsidade.
Ao chegar em casa, César trancou-se em seu quarto e não queria sair. Seu pai, ao chegar do trabalho, procura-o e o encontra em sua cama totalmente banhado em lágrimas, tentando esconder seu choro. O pai, sutilmente lhe diz, beijando-o na testa:
— Boa noite, filho. Tudo bem com você?
O garoto balança a cabeça num aceno positivo, mas não o responde. Então seu pai lhe diz:
— Sabe... às vezes eu também choro. Nem sempre as coisas que nos acontecem são boas e é normal que nos sintamos tristes de vez em quando. Pode chorar o quanto precisar, tudo bem, filho? Se quiser conversar, estou aqui...
O garoto então olha para o seu pai e diz:
— Por que todos me odeiam? Por que as pessoas fingem gostarem de mim? Será que sou tão ruim assim?
E seu pai lhe responde:
— Filho, muitas vezes as pessoas não se dão conta do que estão fazendo. Você não tem problema algum, o problema é delas.
E César lhe diz:
— Estou cansado de ser o garoto que veio do subúrbio, que é julgado por todos os outros como alguém sem valor, de ser tratado com certa indiferença, ou mesmo por pura formalidade. Falam comigo de um jeito, mas falam de mim de outro jeito... não aguento mais!
Seu pai, carinhosamente, lhe fala:
— Filho, as pessoas realmente acreditam que elas são/estão acima de você somente porque você é diferente delas. Algumas delas o magoam propositalmente, por ser diferente delas, outras, nem mesmo sabem o que estão fazendo, pois agem seguindo a maioria, por inconsciência.
— Se elas estão certas, eu estou errado, então! Você está defendendo a maldade delas! Isso não é justo...
O garoto começa a chorar novamente, mas seu pai lhe sorri, dizendo:
— Eu não estou defendendo a maldade delas, filho... Estou entendendo de onde vem a maldade e sei que elas nem se dão conta disso. Não percebem que estão vazias, julgando a você, que estão praticando a maldade com você. Elas, na verdade, acreditam que estão agindo de forma correta, pois as outras pessoas também estão agindo dessa maneira. Quando alguém inicia um julgamento dentro de um grupo comum, a tendência é que todos o façam igualmente. Isso se alastra como um câncer.
O garoto então, lhe pergunta:
— Mas, se elas acreditam que estão agindo da forma correta, como elas vão mudar? Como vão parar de praticarem a maldade comigo, se não percebem que estão sendo maldosos?
Então, o pai lhe responde:
— Não se preocupe com elas, filho. Só lhe peço para que não faça o mesmo. Não cultive a mágoa, o ódio, a indiferença e qualquer maldade em seu coração... Continue buscando ser você mesmo, seus próprios motivos para prosseguir, por mais que difícil que seja, porém, nesse processo, você estará se tornando independente das circunstâncias alheias e se concentrando em ser melhor do que você mesmo pode ser. Não há, em todo este mundo, alguém melhor ou pior que você... Não há.
E então, o pai abraça César e lhe diz:
— Filho, fomos feitos por amor, pelo amor e para o amor... Basta amarmos sempre, essa é a chave para a vida...