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A DEFINIÇÃO DA VIDA

Certo dia, um grupo de pessoas estudiosas sobre diversos aspectos da vida, resolve criar um evento para abordar o tema: A Vida. Para este evento foram convidados diversas personalidades especializadas em suas áreas de filosofia, psicologia, parapsicologia, astronomia, matemática, história, sociologia, etc. Todos os especialistas eram professores acadêmicos e detinham currículos invejáveis.


O evento se inicia, bem como as palestras dos diversos palestrantes. As pessoas que foram até o evento possuíam diferentes níveis intelectuais e culturais, como também, religiosos. Todas as perguntas poderiam ser anotadas e, a cada palestrante, poderiam ser dirigidas até cinco perguntas, ao final de sua explanação.


Diversos aspectos sobre a vida foram abordados, desde a criação de todo o Universo, passando pela definição do que é vida, indo até o mais polêmico dos temas: A Vida Após a Morte. Sobre este último, diversas teorias foram abordadas, mas parecia que o objetivo dos intelectuais era de subjugar tal possibilidade, bem como, de uma forma dita “científica”, provar que isso seria impossível.


Utilizaram diversos cálculos, teorias científicas e seus conhecimentos de diversas outras áreas para “de uma vez por todas”, acabarem com essa “crença popular e irracional”, como diziam. Neste momento do evento, não mais estavam realizando suas abordagens individualmente, dentro de suas especialidades, mas juntos, no palco, para tentarem convencer a todos de que essa “ideia” seria primitiva e de que o ser humano, em pleno século XXI precisaria evoluir juntamente com a ciência, ou ao que eles consideravam como tal.


A empolgação dos professores, detentores da verdade, era tanta, que não estavam deixando espaço para as pessoas realizarem suas perguntas. O tempo da palestra estava quase acabando e os criadores do evento já estavam desesperados com essa questão, o que fazia com que eles, de cinco em cinco minutos, sinalizassem aos palestrantes que o tempo estaria acabando.


No ápice de sua apresentação, após serem ovacionados pelas impressionantes considerações que fizeram, decidiram abrir para perguntas e ainda pediram para que as pessoas fizessem perguntas objetivas.


Um garoto, recém-formado no Ensino Médio, que acabara de ver sua avó partir, poucos meses antes do evento, viu-se escolhido para realizar a primeira pergunta. Ele diz:


— Primeiramente, gostaria de agradecer por terem aberto a sessão de perguntas. É claro que estamos falando sobre a vida, mas, considerando que o seu oposto seria a morte, por que não pensarmos em definirmos a morte primeiro, já que a conhecemos melhor, para, aí sim, tentarmos definir a vida? Será que conseguimos definir a morte? Obrigado.


Os intelectuais olharam entre si e riram-se, com certo desdém da pergunta do garoto. Um deles, com tamanha pretensão, responde-lhe de maneira simplista e totalmente rude:


— Ora, a morte é simplesmente a ausência dos sinais vitais. Próximo, por favor.


O garoto olha para o organizador da fila de perguntas, que lhe pede para sair, porém ele se nega e diz no microfone:


— Por favor, senhor. Essa sua resposta não pode ser generalizada, pois não abrange a todos os tipos de vida e, pelo que sei, estamos falando da vida de forma generalizada. Peço para que, por favor, responda à minha pergunta com seriedade.


O doutor ficou surpreso com tamanha audácia do garoto, mas, diante de tantas pessoas, não poderia negar-lhe a resposta, nem lhe ser desrespeitoso - como gostaria de ser - muito menos, causar a impressão de que não saberia responder à pergunta. Então, resolve falar o mínimo possível e acabar logo com aquilo, tentando ser aprazível:


— Você não me deu nenhuma referência de que morte estava falando: se era de um ser humano, de um vegetal, de um animal, de uma estrela… — E, debochando, prossegue — Seria impossível responder à sua pergunta sem um referencial inicial… você deveria saber que está falando com cientistas! Agora sim, próximo!


O garoto não fica satisfeito com a pergunta e relutando com o organizador da fila, que o puxava freneticamente, alcança novamente o microfone e diz:


— Tem razão! Mas, então falemos da morte de um ser humano! Como define a morte do ser humano, sem se utilizar da explicação anterior e da clássica “impossibilidade de continuidade do processo homeostático”, que aprendemos na escola? Se as bactérias, o sangue, os órgãos, o corpo como um todo, continua aqui, o que se vai?


O doutor, surpreso com a pergunta, aparentemente simples, porém, complexa, começa a sentir-se pressionado a dar uma resposta convincente e, em seu disfarce, diz:


— Ora, você é bem insistente, não, garoto? Existem outras pessoas que querem realizar perguntas, então, por que não dá espaço para elas? Na morte, obviamente, o que se vai é a vida. Respondido? Por favor, organizem a fila de perguntas.


A essa altura, durante a resposta do professor, já haviam contido o garoto fora da fila para que ele não mais pudesse perguntar. O próximo a assumir o púlpito de perguntas foi uma garota, estudante de medicina, que disse:


— Muito obrigado pela oportunidade. Sou estudante de medicina, estou no sexto semestre. Minha mãe faleceu há alguns anos e eu decidi estudar medicina por conta da morte dela. Eu quero ajudar as pessoas a manterem-se saudáveis e com qualidade de vida. Possuía uma pergunta em mente, mas gostaria de ouvir a resposta à pergunta do garoto.


O professor responsável por responder, não mais conseguindo se manter em seu fingir, esbarra em seu limite diário de cordialidade e, assumindo sua rispidez, diz:


— Eu não me lembro da pergunta dele! Não posso responder se não me lembro. Enfim, qual é a sua pergunta?


A estudante diz:


— Não tem problema, eu peço para que ele a faça novamente, em meu lugar. 


Então, ela abdica de sua voz, para dar voz ao garoto, que retorna ao púlpito das perguntas:


— Muito obrigado pela sua gentileza. Senhor, eu gostaria de saber: se a vida se vai, como disse, vai para onde?


O doutor responde simplesmente:


— Essa pergunta é insana! “Vai para onde”? Está brincando comigo, garoto?


O garoto diz:


— Não, senhor. O senhor me respondeu: “Na morte, obviamente, o que se vai é a vida.” Eu quero saber para onde ela vai, mas pelo jeito o senhor não pode me dar essa resposta, não é?


O doutor, furioso, sem mais se importar com sua imagem pública, diz:


— Eu tenho mestrado, doutorado, PhD. e você? Você acha que eu não sei te responder? Está muito enganado, só não o respondo porque suas perguntas são simples especulações, não possuem base científica alguma!


O garoto diz:


— Desculpe-me, senhor, mas acredito que minhas qualificações acadêmicas não devam superar os fatos e acredito que a ciência seja baseada, primordialmente, nas observações destes fatos. Sendo assim, minhas perguntas possuem base lógica, pois podem ser comprovadas empiricamente. No entanto, já estou vendo que não tem a capacidade de me responder, já que nunca me responde, preferindo me agredir ao invés de responder-me.


O professor, nitidamente irritado, replica:


— Se me provar que suas perguntas possuem algum fundamento, eu lhe responderei.


— Pois bem: o que se vai, se o corpo continua presente? Essa era a minha primeira pergunta, a qual o senhor me respondeu, simplesmente dizendo que, “obviamente”, seria a vida. Mas, se a vida se vai, vai para onde? Se ela veio animar a este corpo, de onde teria vindo? Se veio, veio de onde? Ou seja, doutor, em três horas de palestras ininterruptas, eu não consegui ser convencido de que não exista algo “após a morte”, sendo que esse “algo”, que o senhor mesmo deu o nome de vida, existe antes e continua existindo após esse fenômeno ao qual chamamos de morte. Minha última pergunta para o senhor é: o senhor saberia me responder como algo que consideramos “morto”, porque o vemos, poderia ser animado por algo “vivo”, que não vemos?


Nesta hora, o doutor, fica estático e as pessoas organizadoras, prontamente, lhe retiram o microfone e agradecem a presença de todos, encerrando assim o evento, alegando já estarem estourados no tempo…


Qual seria a resposta?


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