Em uma região montanhosa da China, resistia um antigo mosteiro. Havia um pequeno vilarejo nas redondezas, onde morava um jovem chamado Huo. Ele almejava encontrar-se com um dos Mestres mais sábios que lá havia.
Durante boa parte de sua vida ouviu seus pais dizerem o quanto os ensinamentos daquele Mestre haviam lhes ajudado. Isso sempre o impressionou! O Mestre se chamava Feng. A sua sabedoria era reconhecida por todos, bem como a forma didática com a qual passava seus ensinamentos, pois era um exímio escritor. Seus livros orientavam e davam alento a quem precisava, sua disciplina e seriedade eram notáveis! Suas obras haviam suplantado as muralhas do templo! Porém, por mais que fossem suas qualidades reconhecidas por todos, ele nunca saía do mosteiro, portanto, ninguém sabia quem ele era.
Por este motivo, Sun ingressa no mosteiro a fim de encontrar-se com aquele Mestre que tanto admirava. Queria ser como ele! O jovem monge treinava dia e noite para saber como se portar diante dele, que pensava ser o mais austero e implacável de todos os outros que residiam ali, pois essa era a impressão que tinha do mesmo.
Dias, até mesmo meses se passaram e Huo, por mais que procurasse o Mestre em suas horas vagas, não o encontrava.
Em uma certa manhã de inverno gélido, ao cair suave da alva neve sobre os galhos das árvores - pálidas, ao serem olhadas de dentro da sala de meditação -, ele observa um manto laranja cruzar seu olhar longínquo.
O contraste era tão nítido e intenso que chamava a atenção de todos. E, de repente, alguém diz: "O Mestre!". Com grande esforço para conter seu impetuoso desejo de ir ter com o Mestre, pergunta ao seu superior se poderia se retirar, momentaneamente, para ir ao banheiro. E então, ele foi liberado.
Cada passo em direção ao banheiro era um pouco mais perto do Mestre, que parecia ainda mais grandioso que antes, quando visto de costas. Porém, quanto mais se aproximava o jovem monge, mais detalhada sua visão se tornava, até que, para sua surpresa, pôde ver que seu Mestre estava sentado no que seria uma cadeira de rodas!
O monge hesitou! Parou onde estava e, há tão poucos metros do Mestre, não mais pôde mexer suas pernas e prosseguir. Sua decepção era tamanha! "Como um Mestre tão sábio poderia estar sentado em uma cadeira de rodas?" - pensava ele, atordoado.
Em sua estagnação aparente, o silêncio é quebrado pelo indagar do Mestre: "Pelo que vejo, você também é paraplégico, certo?". Um gaguejar espontâneo do monge, ao saber que o Mestre dirigia-se a ele, mesmo de costas, se inicia: "Não... Me - Mestre... Não so - sou paraplégico..."
O Mestre se vira e, para o espanto do jovem monge, ele estava sorrindo, seus olhos brilhavam e emanavam uma luz sublime. Era como se possuísse uma felicidade tão grande que não a pudesse conter em si mesmo, o que frustrava e confundia Huo. Então, um diálogo se inicia:
– Como sendo tão sábio, pode estar nesta situação?" – Disse o monge.
– Em qual situação, caro monge?
– Como pode estar tão feliz, sentado e limitado a uma cadeira de rodas?
– Ah, se refere à cadeira de rodas? Ela não poderia conferir-me maior alegria e liberdade! – responde o Mestre, chocando Huo.
– Mas, como pode dizer isso? Eu não compreendo.
Com imensa compaixão, leveza e serenidade, o Mestre Feng lhe responde:
– Fui baleado na coluna lombar, ao lutar por este templo, defendendo-o contra a invasão da Revolução Chinesa.
– Oh, Mestre, como pode sentir alegria por ter sido acometido de tal delito?
– Meu jovem... Nenhum destino é tão certo quanto aquele ocorrido pelas suas próprias escolhas, dentro do seu próprio caminho, do seu próprio Tao.
– Estou certo de que, algum dia, talvez eu entenda, Mestre... Mas, não sei se eu conseguiria sorrir, assim como o senhor nesta cadeira.
O Mestre olha profundamente para o jovem monge, se aproxima e diz:
– Ainda que seu corpo não mais possa se mover, que suas mãos não mais possam sentir, que seus pés e pernas não mais possam caminhar, que sua boca já não mais possa falar e que seja totalmente dependente das pessoas... Quando só lhe restar a mente, se perguntará como poderá servir, ser útil neste mundo para alguma coisa, para algum propósito... Se um dia enfrentar essa situação, não se esqueça de que ainda pode dar o seu sorriso, pois somente você o dará, como mais ninguém poderia fazê-lo.