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A Lenda da Caverna

Em um vilarejo no meio das florestas irlandesas, circulava a lenda da caverna. Era dito que naquela caverna, escondida pela mata, havia um grande tesouro, porém, somente aquele que tivesse o coração puro poderia encontrá-lo. 


A lenda foi contada pela primeira vez pelo neto de um falecido sacerdote druida chamado Hanz. O sacerdote disse ao seu neto que um homem havia permanecido sete dias em uma longa jornada pela mata ao sul e que acabou encontrando uma grande caverna cheia de tesouros. Foi-lhe dito que este homem deixou um pergaminho escrito: "Somente aquele solitário peregrino, que tiver o coração puro, encontrará o tesouro". Hanz não deu detalhes sobre o paradeiro do homem, mas desconfiava de que ele pudesse ter morrido.


O neto de Hanz chamava-se Tyr.  Ele também era um sacerdote druida e sempre buscou manter essa lenda viva. Todas as crianças o conheciam, bem como à lenda. Certo dia, um jovem aprendiz quis desafiar-se e partir em busca da caverna. Foi então que procurou por Tyr e lhe falou:


— Sacerdote Tyr, gostaria de buscar a caverna. 


Então, ele olhou fixamente para o jovem e disse-lhe:


— E o que espera encontrar lá?


— O tesouro.


O sacerdote levantou-se e foi buscar um copo para servir chá ao seu obstinado aprendiz. Ao entregar-lhe o chá, sentou-se e falou:


— Você considera que a Lenda da Caverna seja verdadeira?


— Sim.


— Pois bem, entendeu bem as condições para que possa encontrá-la, bem como ao seu tesouro escondido?


— Sim.


Tyr olha o jovem nos olhos novamente e diz:


— Pois bem... Partirá sozinho, quando se sentir pronto.


O jovem o agradeceu, colocou o copo vazio na mesa e partiu para sua tenda, para separar e organizar algumas coisas para a sua jornada.


No dia seguinte partiu em busca da caverna. Seus amigos lhe abençoaram, enquanto viam-no desaparecer em meio à vegetação. Aquele dia foi de muita comoção por parte de todos. O sacerdote, Tyr, também observou o jovem durante sua partida e, logo em seguida, organizou uma celebração para todos.


Alguns dias passaram e todos estavam preocupados com o jovem. Perguntaram para Tyr o paradeiro dele, mas o mesmo alegava não saber. 


No quinto dia após a partida do peregrino, alguns de seus amigos se reuniram e foram falar com Tyr, para que organizassem uma equipe de busca . O sacerdote negou tal mobilização, pois o jovem estava ciente de todas as condições, que incluíam estar sozinho.


Após mais um dia, todos estavam muito preocupados por não terem qualquer sinal de vida do jovem aprendiz. Tyr convocou a todos e disse:


— Hoje faz seis dias, desde a partida de nosso amigo aprendiz. Como a lenda nos fala, o tempo de peregrinação pela floresta é de sete dias. Aguardaremos retorno do jovem amanhã, mas, caso ele não volte, em sua homenagem, realizaremos a celebração de sua vida e passagem amanhã, ao pôr-do-Sol. 


Todos no vilarejo ouviram com um certo pesar as palavras de Tyr, porém sentiam-se muito honrados pela busca de seu amigo.


No período da manhã, praticamente todos os moradores do vilarejo já estavam acordados para receberem o jovem, mas ele não apareceu. As horas foram passando e o crepúsculo foi se aproximando. Existia uma certa tensão no ar, pois, a partir daquele momento, o jovem seria considerado morto.


Então, o crepúsculo chegou, a celebração foi iniciada e todo o rito, executado. A celebração estava sendo terminada com as seguintes palavras de Tyr:


— Agradecemos aos céus e à terra... Agradecemos pela vida do nosso irmão que fez a passagem...


E, de repente, um lobo uivou e um vento forte se iniciou, balançando todas as árvores dali. Todos os presentes se encontravam surpresos, sem saber o que estava acontecendo. Foi então que surgiu ele: o jovem aprendiz! Todos o olharam perplexos, não parecia ser mais a mesma pessoa. Tyr foi até o garoto, segurou-lhe a mão e o levou ao centro da cerimônia, dizendo:


— Eis aqui o nosso irmão que fez a passagem, pois adentrou as profundezas de sua própria caverna interior, purificou seu coração e encontrou o verdadeiro tesouro: seu próprio ser. A partir deste momento ele não mais será chamado de jovem aprendiz, mas de Sacerdote Sowilo, pois estará a serviço da luz. Ele retornou após o sétimo dia e será responsável por manter viva a Lenda da Caverna nos corações de todos da próxima geração. Que a luz sempre se manifeste em nosso mundo e que seja acessível a todas as criaturas.


Dizendo essas palavras, o Sacerdote Tyr, indumenta o Sacerdote Sowilo com uma veste branca. Sowilo faz uma reverência a Tyr e outra às pessoas do vilarejo, que agora percebia tanto amar.


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