Francisco e Jorge eram dois amigos de um setor empresarial que se conheciam há décadas. Em um determinado dia, Jorge vê seu chefe, aparentemente, ofendendo a Francisco, porém o mesmo estava o tempo todo calado. Quando Jorge já estava à beira de interferir na discussão, o chefe se retira da sala. Cinco minutos depois, o horário do expediente se encerra e ambos saem da empresa.
— Se fosse comigo ele iria ver só! — disse Jorge a Francisco — Eu não aguentava mais ver ele te ofendendo! Eu o iria fazer engolir cada palavra! Por que ficou calado?
Então, Francisco lhe respondeu:
— Não valeria a pena. Eu não merecia aquelas palavras, então por que iria me desgastar para me defender de algo sem fundamento?
— Você não precisaria se defender, mas retribuir!
— Não poderia retribuir o mal!
Jorge estranha essa resposta, mas sente-se curioso por saber qual seria a explicação de seu amigo. Então, lhe pergunta:
— E por que não poderia retribuir?
— Porque a única coisa que nos cabe retribuir é o bem. Se tanto nos incomoda o mal, é porque ele não nos é natural. Se fizéssemos o mal, não o veríamos como tal, não iríamos estranhá-lo. Sendo assim, não podemos retribuir o mal, se a nossa natureza é o bem.
Após refletir por alguns momentos sobre essa frase, Jorge diz:
— Certo, mas como faremos para mostrar a quem o pratica, que sua atitude não está correta?
Sabiamente, Francisco, lhe responde:
— E você acha mesmo que temos esse poder? Ninguém pode convencer a outrem, sem que o mesmo convença-se antes. Somente as consequências de suas escolhas o farão concluir tal coisa, de forma empírica.
— Mas, se eu não fizer nada com relação a isso, vou continuar sofrendo por culpa do outro! Se alguém me ofende, como posso ficar bem, em paz com isso? — Jorge pergunta.
— Veja, quem é que sofre?
— Eu.
— Quem é que se sente ofendido?
— Sou eu, obviamente!
De uma forma um pouco mais séria, porém ainda sereno, Francisco diz a Jorge:
— Bem, se você sofre e sente-se ofendido, o sentimento é seu. Você deve estar consciente disso. Se não quiser tomar o sofrimento, bem como a ofensa para si, não possuí-los-á.
Jorge diz:
— Fácil dizer isso quando não se está na pele do outro!
— Eu concordo plenamente. Mas, veja, isso que digo não é para tornar o outro impune, mas para dar a você uma chave para a liberdade, já que não mais dependerá da atitude alheia para sentir-se livre.
— Mas, você acha justo que o mal progrida?
Então, Francisco, responde:
— Não posso me colocar na posição de juiz e julgar a algo, ou a alguém, pois não sou perfeito. O que compete a mim é fazer a minha parte para me tornar um ser humano melhor, para mim mesmo e para todos os que estão ao meu redor. Com isso, me sinto responsável pela minha liberdade e felicidade. Isso me faz viver feliz, livre e em plenitude!
— Entendo. Até chego a concordar com você, pensando melhor. Mas, ainda não sei como proceder nestes casos. Parece haver injustiça.
— Naturalmente a justiça ocorre. Ninguém consegue se aproximar de alguém com tamanhos desequilíbrios emocionais, com tais acessos de estresse. De forma natural, a pessoa perceberá que suas atitudes a afastaram das outras pessoas. No que cabe a mim, basta que saiba manter-me equilibrado, consciente de que o problema, na verdade, nunca foi comigo, mas sim, com ele mesmo.
Jorge então, reflete nas palavras de seu amigo e concorda com ele. Alguns minutos depois vão tomar um lanche e comentar sobre as faces espantosas das pessoas que observavam a situação, agora cômica, no momento em que a mesma ocorria.