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A MALDIÇÃO DO JARRO

Dentro de um jarro fechado, oculto por uma floresta, havia alguma coisa. Muitos já haviam passado por ele, mas não tinham coragem de abri-lo e conferir o que nele havia. Sabiam que poderia ser algo perigoso, dado ao fato de que o último a tentar abri-lo, desaparecera, juntamente com a sua família.


As pessoas diziam que um homem havia ido visitar a floresta com sua esposa e filhos, porém, ao encontrar o jarro, tentou abri-lo e, depois disso, ninguém soube o que aconteceu, só se concluiu que todos eles desapareceram de forma inexplicável. O Homem teria falado sobre o passeio que realizaria com sua família a um de seus amigos, morador da aldeia. Também comentou que acampariam lá por três dias. O trajeto da aldeia, até o ponto da floresta onde se encontravam, durava um dia de caminhada.


Após quatro dias, a família não retornou. Foi então que o morador teria ido procurar seu amigo e família, mas os rastros encontrados paravam exatamente à frente daquele jarro tampado. O amigo, ao ver as marcas dos dedos na tampa do jarro, voltou assustado para a aldeia, contando a todos o que teria visto. A partir de então, um mistério se criou em torno do assunto e até cogitava-se a possibilidade de uma maldição ter sido lançada sobre a família toda do homem.


Muitos anos se passaram desde então. As crianças da época já haviam crescido e agora contavam sobre a "maldição do jarro da floresta" para seus filhos, afim de impedi-los de abrirem-no. Todos os moradores daquela região conheciam essa história, pois o homem e sua família eram muito conhecidos por todos.


Aquela região era muito pobre e muitas pessoas somente sobreviviam pelos recursos naturais encontrados ali. Algumas famílias tinham o infortúnio de serem acometidas por alguma doença e isso se tornava um grande problema. Eles contavam com chás e ervas para realizarem todo o tipo de tratamento.


Em um determinado dia, um casal explorador que morava em outra região foi até a floresta. Depois de várias horas caminhando por ali, o casal encontra o jarro. Naturalmente, os exploradores não tinham ciência do jarro e da história vigente ali. 


A mulher viu o jarro e o achou muito belo e, devido a estar há tantos anos ali, se integrava perfeitamente com o ambiente. O homem, analisando-o, percebeu que ele estava fechado por uma tampa e, então, decidiu abri-lo.


Ao abrir o jarro, o homem se espanta com o que encontra dentro dele! Havia uma mensagem, escrita em um papel bem antigo, que dizia: 


"A todos os moradores dessa aldeia, deixo-vos aqui um mapa para que saibam onde nos encontramos. Durante o nosso passeio pela floresta, acabamos encontrando uma outra região com muitos recursos naturais, com terra fértil e bem melhor do que aqui, onde moramos. Estou escrevendo este bilhete e deixando-vos esse mapa, neste jarro, protegido e tampado, pois devo voltar para minha família, já os deixei para que pudesse voltar até aqui e vos deixar essa mensagem. Esperamos por vocês."


O explorador e sua esposa ficaram muito curiosos sobre o local que o mapa apontava, porém, estavam duvidosos se os verdadeiros destinatários da mensagem haviam sido atingidos por ela. Mesmo assim, decidiram verificar se os caminhos apontados pelo mapa realmente existiam e constataram que, apesar de existirem alguns indícios das trilhas abertas, a vegetação, após todos esses anos, já havia tomado conta das mesmas. Decidiram, então, procurar a aldeia citada na mensagem, levando o bilhete com eles. 


Ao chegarem na aldeia contaram a sua história para os moradores locais, que, imediatamente, chamaram o amigo do homem desaparecido há anos, o responsável pela história do jarro, que agora já tinha cerca de 50 anos. Ele se aproxima e confere que aquela grafia realmente era a mesma de seu amigo. O senhor ficou muito preocupado com o casal, pois poderiam ter sido amaldiçoados pelo jarro!


O casal não conhecia a história, então ficou a ouvir o que aquele senhor tinha a lhe dizer. Após entenderem a preocupação dele, deixaram-no tranquilo, dizendo que o chamado "desaparecimento" foi, na verdade, resultado da exploração de seu amigo, não se tratando de nenhum encanto, ou feitiço do jarro, assim como eles também poderiam fazer, se seguissem as instruções do mapa deixado por seu amigo.


O senhor convenceu-se com os argumentos do casal e percebeu que os dois também se interessavam muito por chegarem naquele local apontado pelo mapa. E, devido ao bom caráter e coração deles, ofereceu-lhes abrigo para passarem a noite e convidou-os a empreenderem uma exploração, a partir do dia seguinte, com os mais experientes da aldeia, seguindo as coordenadas do mapa encontrado. O casal, prontamente, aceitou.


Ao acordarem e se prepararem, começaram a se dirigir para a floresta. Após chegarem lá, depois de um dia inteiro de caminhada, montam acampamento para prosseguirem no dia posterior. Ao nascer do Sol, desmontam o acampamento e seguem, mata a dentro, baseando-se nas orientações dadas pelo mapa. Quando caiu a noite, descansaram e, no dia seguinte, chegaram em um lugar totalmente incrível, com muitas plantações, diversas árvores frutíferas e um riacho que passava por ali, oriundo de uma cachoeira que se ouvia há algumas centenas de metros de distância.


Ao perceberem a chegada daqueles visitantes, os moradores se reuniram, pensando estarem sendo invadidos e foi então que, um deles, o mais velho, se aproximou e reconheceu seu amigo! As barbas e as cores dos cabelos, agora grisalhos, atrapalhavam o reconhecimento visual, mas não impediram as velhas almas amigas de se reconhecerem. 


A maioria dos moradores eram membros da família do homem, até então desaparecido, pois foram os primeiros a chegarem até ali. O homem, ao perguntar sobre o porquê de seu amigo não ter ido de encontro a eles, o mesmo respondeu que pensou que eles tivessem sido acometidos por alguma maldição do jarro. Ao ouvir tais palavras, o homem caiu na gargalhada e disse que o jarro era a única coisa que carregava consigo, capaz de proteger o mapa do lugar que havia encontrado, das intempéries da natureza.


Seu amigo dissera-lhe que havia entendido tudo, enfim, inclusive que ele não tivesse voltado para a aldeia e avisado o seu povo pessoalmente, pois sua família poderia estar em perigo. No entanto, lhe questionou sobre o porquê de não ter voltado após algum tempo para a aldeia, e ele disse-lhe que um deslizamento de terra ocorrera e que o mesmo eliminara as trilhas pelas quais ele tivera tomado até ali, impossibilitando-o de voltar com segurança. Ambos se abraçaram e demonstraram muita felicidade ao se reencontrarem.

Após muita conversa, decidiram que fariam a migração da aldeia para aquele local, que agora seria o lar de humildes aldeões que, há tanto tempo, sobreviviam em terras inférteis e sofriam com a fome.


A pergunta que fica é: até onde nossas crenças podem nos limitar?

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