Um jovem estudante de violão, certa vez, ao estudar sua partitura, se surpreendeu ao perceber que as notas ali contidas não soavam como as que ele ouvia durante a execução de seu professor. Durante algum tempo ficou treinando, afinando e reafinando o seu violão, mas não conseguia chegar no mesmo resultado brilhante de seu professor.
Ele havia escolhido aquela peça para estudar, justamente, por sentir que ela tinha a capacidade de lhe trazer sensações e expansões conscienciais, porém, mesmo que estivesse obedecendo a cada andamento, a cada notação expressiva, pontos de ênfase etc., não conseguia ter as mesmas sensações quando ele mesmo a executava.
Foi então que, na semana seguinte, no dia de sua aula de violão, seu professor lhe pediu para que ele executasse a peça em questão. Após a exímia execução técnica, o professor sorri e lhe parabeniza. O jovem, insatisfeito com sua execução, pensativo sobre a veracidade daquelas congratulações, pergunta para o seu professor:
— Você realmente acha que estou executando bem a peça?
O professor responde:
— Sim, você a executa corretamente. Por que me pergunta?
O jovem lhe diz:
— Não estou conseguindo chegar ao mesmo resultado que o senhor. Parece faltar algo.
O professor lhe pergunta:
— O que está querendo dizer com isso? A mim parece que está muito boa. Explique, por favor, o que acha que estaria faltando.
— Eu tenho muitas sensações positivas, me enlevo quando ouço o senhor tocá-la, porém, não atinjo esta mesma expansão, não consigo sentir-me do mesmo modo quando eu mesmo a executo. Afino o violão perfeitamente, mas as notas não soam da mesma forma.
O professor então lhe diz:
— Entendo... Acho que sei o que pode estar lhe faltando.
O jovem lhe pergunta:
— O que está me faltando, professor?
O professor lhe responde:
— Caro aluno... De nada adianta se especializar, dominar totalmente a leitura e a execução das peças, afinar o violão várias e várias vezes... O princípio de tudo reside em entender que a música não se trata de algo mecânico.
Ele pega o violão de seu aluno, com todo o cuidado, e continua:
— A música não vem de fora para dentro. Seria impossível colocar as emoções representadas por simples notações em um papel. A partitura é só um caminho que nos leva a encontrar a música dentro de nós mesmos. Além de afinar o violão, devemos afinar nossos corações, pois só assim, a música verdadeira fluirá, de dentro para fora...
O professor começa a executar a mesma peça com o violão de seu aluno e, para a surpresa do jovem, as emoções lhe acometem novamente:
— Eu posso sentir, professor... É o meu próprio violão a executá-la perfeitamente!
Então, o professor lhe diz:
— Está vendo, caro aluno? Não se trata do violão, mas sim, de afinar o seu coração, para que brote a verdadeira música, através de sua expressão.