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O Caminho Real

Certo dia, um homem nobre, muito rico e poderoso mudou-se para um vilarejo na antiga China. Durante sua estadia, ele conheceu muito sobre o povo local e criou muitas amizades por ali. 


Apesar de possuir muito dinheiro e poder, tinha um coração amoroso e bondoso, então ajudava as pessoas sempre que podia. Todos o tratavam com muito amor e proximidade, pois não o sentiam como alguém diferente deles. Tamanha era a sua gentileza e humildade.


Após uns dois anos, o nobre homem estava com planos de mudar-se para outro local. Tinha conseguido organizar todas as coisas para que a sua mudança fosse tranquila. As pessoas o paravam e lamentavam que ele pudesse deixá-las, pois o sentiam como um grande zelador do vilarejo.


O nobre homem estava convicto de que a nova cidade seria ideal para ele, pois o mesmo havia recebido algumas propostas de pessoas muito poderosas, que prometeram a ele que ele teria maiores possibilidades de investir o seu dinheiro em obras sociais, em empresas que apoiavam o meio-ambiente etc.


Quando faltavam dois dias para a derradeira partida, o homem passou mal e descobriu estar com uma doença muito grave, que não possuía cura. As pessoas ficaram sabendo e compadeceram-se muito dele. Uma grande parte delas se organizou e foi visitá-lo. A viagem havia sido adiada.


O nobre homem estava acamado, bem desanimado, mas nunca deixava de dar atenção às pessoas, sorrindo para elas, ou ajudando-as da forma que podia, mesmo se fosse necessária a sua intervenção financeira. Ele começou a tomar seus remédios paliativos e foi recuperando a força necessária para caminhar novamente pelo vilarejo.


Todos o admiravam por tamanho exemplo de força, alegria e benevolência. Ao ser indagado sobre como conseguia superar-se de tal maneira, respondeu:


— Eu tenho vida. E enquanto a tiver, tenho que vivê-la da melhor maneira possível. Quero ser quem sou e não me limitar ao que não quero ser.


Certo dia, após recuperar-se o suficiente para caminhar pelas ruas, se deparou com um garoto muito bem vestido, aparentemente rico, que, estranhamente, estava por ali.


O garoto deveria ter cerca de dez anos de idade, usava roupas de seda, e encontrava-se perdido. O homem rico, vendo que não havia ninguém por ali, lhe perguntou:


— Olá, garoto. Como se chama?


O garoto lhe respondeu:


— Eu me chamo Zhong.


— Muito prazer, Zhong. O que faz por aqui? Onde estão seus pais? — Disse o homem.


— Estou caminhando, não vê? Não sei onde estão eles. Não posso vê-los, bem como você. 


O homem notou a hostilidade do garoto e lhe disse:


— Escute, minha intenção é lhe ajudar, mas só conseguirei fazer isso, se me permitir e colaborar comigo.


— Mas, eu não quero sua ajuda. Não preciso. — Disse o garoto.


— Tudo bem, como quiser. Porém, ainda assim, não consigo me convencer de que não precisa de ajuda. Pelo jeito que se veste parece um nobre garoto, que se perdeu.


O garoto respondeu, de forma enérgica, ao homem:


— Eu já disse que não preciso de sua ajuda!


O homem então lhe fez uma reverência e se retirou. Porém, ele gostaria muito ajudar ao garoto, então começou a segui-lo, sem que o mesmo percebesse, para então ajudá-lo, de alguma forma.


O menino caminhava em direção à floresta, onde seria certamente devorado por animais selvagens, então, o homem se adiantou e reuniu vários tipos de detritos e os colocou no meio do caminho, de forma a fazer o garoto desviar sua rota.


Durante todo o tempo, ele criava condições para que o garoto pudesse se dirigir à região nobre, com o intuito de encontrar os seus pais, de forma que o mesmo não percebesse que ele estava ali, zelando por sua segurança.


Em um determinado momento, quando o garoto chegou à região desejada, o homem ficou muito feliz, pois tinha a plena certeza de que agora o garoto estaria bem. Ao virar-se para seguir seu próprio caminho, ele se surpreendeu: o garoto estava à sua frente!


Então, o homem lhe dirigiu a palavra:


— Mas, como você veio até aqui em tão pouco tempo? Você sabia que eu o seguia?


O garoto respondeu:


— Eu não cheguei até aqui. Na verdade, eu sempre estive com você, observando seus atos e seu coração.


O homem ficou confuso e perguntou:


— Eu não entendi o que quis dizer.


— Eu vi o que fez por todas as pessoas que encontrou. Vi a felicidade em seu coração por ajudá-las e vi como isso te fazia se sentir bem e reconhecido. Mas, ainda faltava saber se o seu coração era mesmo tão amoroso, a ponto de ajudar a alguém, mesmo que não tivesse o reconhecimento dessa pessoa, mas agora pude constatar que sim.


Foi então que o nobre homem, acreditando que não estava realmente falando com um garoto, lhe disse:


— Mas, não consegui ajudá-lo como ajudei aos outros… tive de me afastar, colocar obstáculos em seu caminho para que pudesse seguir na direção certa.


Então, o garoto disse:


— Perfeitamente… agora também pode entender como eu ajo, baseando-se em como agiu comigo…


Então, após dizer isso, seu corpo se iluminou completamente, seu corpo fundiu-se, diluindo-se em uma espécie de esfera dourada de luz que envolveu e, de dentro dela, uma voz disse:


— Siga, nobre homem, você está curado…


Após essas palavras, o "garoto" desapareceu e um vento soprou fortemente, dissipando as nuvens do céu, fazendo possível um dos raios do poente iluminarem o homem, que, em êxtase, começou a chorar em profunda gratidão. A partir daquele momento, ele cancelou a viagem e permaneceu junto aos seus amados aldeões.


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