Certa vez, uma repórter de televisão muito famosa foi até o oriente para entrevistar um mestre das montanhas porque gostaria de saber como ele, bem como os outros monges, enxergavam a vida e como poderiam definir certos conceitos que nós, do ocidente, tanto temos curiosidade.
Tudo foi muito bem planejado e organizado durante alguns meses e agora ela estava a caminho do templo onde se encontravam os monges e o mestre, que entrevistaria. Durante seu voo ela foi pensando em várias perguntas, tentando planejar algum roteiro e foi desenvolvendo uma série de perguntas para o mestre.
Quando chegou até o local, depois de muito viajar pelos ares e por terras longínquas, foi recebida por dois monges, que lhe conduziram, bem como à sua equipe, aos aposentos internos, para que pudessem descansar e, no outro dia, terem condições de realizarem suas tarefas conforme o acordado.
O Sol já havia se posto e todos os monges entraram em meditação, enquanto a equipe se acomodava para descansarem em seus aposentos. Se surpreenderam com o silêncio do ambiente, também com a sutil brisa que balançava as folhas das árvores que se encontravam próximas às janelas. Era uma paz profunda!
No dia seguinte, a equipe acorda, pouco tempo após o nascer do Sol, já com os ruídos da natureza e da rotina monástica que se iniciava. Prepararam-se para o café e o tomaram. Até o momento, não haviam encontrado com o mestre, mas, em breve, iriam fazê-lo.
Algum tempo depois, um monge direciona a todos para uma sala de conferências, onde o mestre os estava esperando para cumprimentá-los e atendê-los. Todos os equipamentos foram montados, toda a estrutura necessária para a realização dessa entrevista já havia sido preparada. Os monges perguntaram à equipe se precisavam de mais alguma coisa, mas disseram que não. Foi aí que eles preparam o ambiente com alguns incensos e velas, como faziam, naturalmente, em qualquer ambiente em que estivessem a realizar alguma atividade.
Começaram a entrevista e, logo, a repórter já iniciou sua lista de perguntas sobre os diversos temas que conseguiu elencar. Foram feitas várias perguntas como: "Qual é o sentido da vida?", "Por que escolheu a vida monástica?", ou mesmo "O que te mantém vivendo com tamanha disciplina?". Para cada uma dessas questões a resposta era quase sempre a mesma, pois o mestre sempre direcionava o sentido dela a uma conclusão para ser tirada a partir do interior de cada um.
A jornalista, com uma mente muito racional, intencionando adquirir um conteúdo que fosse "bombástico" no ocidente, não sentia-se satisfeita com as respostas inconclusivas do mestre e começou a ficar ligeiramente irritada. Com uma certa indignação, ela lhe diz:
— Mestre, nós atravessamos oceanos para chegarmos até aqui, por que o senhor não pode dar-nos algumas respostas mais conclusivas?
E o mestre responde:
— Quem concluiu que as respostas são inconclusivas?
E a repórter diz:
— Eu estou concluindo, pois não me servem como respostas. De onde venho, as pessoas precisam de algo mais conclusivo, entendeu?
— Entendo... Mas, você disse que era sua, a conclusão. Entende que só você pode ter qualquer conclusão sobre algo?
— Sim, isso eu entendo. Mas, quando venho até aqui perguntar sobre algo que não vivenciamos comumente em nossa realidade ocidental, considero que não tenhamos como concluir nada sobre isso empiricamente, já que nos é impossível.
O mestre para por um momento e lhe orienta:
— Pois bem... A mim, não dirija pergunta alguma. As perguntas devem ser dirigidas a você mesma, sempre! Diga-me sobre o que você mesma gostaria de entender. Lhe falarei sobre isso, mas, esse deverá ser o único tema ao qual me estenderei, então, escolha-o com perícia e o faça a partir de seu coração.
A repórter, abandonando sua lista de perguntas e seguindo as orientações do mestre, fecha os olhos e lhe diz:
— Eu quero entender sobre a vida. Quero saber o que é a vida e como ela funciona.
O mestre a olha com serenidade, sorri levemente e acena positivamente com a cabeça, dizendo:
— Muito bem... Vê aquele incenso que queima?
— Sim.
— O que conclui sobre ele?
A repórter diz:
— Que ele está queimando e exalando um aroma muito agradável.
— Isso mesmo. Agora, imagine que seu corpo seja o incenso; a sua chama, a sua vida; a fumaça, as suas obras e o aroma, a sua alma... consegue fazer isso?
Pensativa, a repórter lhe responde:
— Sim, consigo, mas ainda não entendi.
O mestre continua:
— O seu corpo é animado pela vida que lhe foi concedida. Quando possui um corpo animado, passa a existir. Ao existir, realiza suas obras e, por elas, o aroma de sua alma essencial se faz sentido por quem estiver consigo. Qual aroma exalar, isso é inerente à escolha e execução de suas obras... Esse é o todo do ensinamento. O incenso…
A repórter então fixa seu olhar sobre o incenso e permanece reflexiva. O mestre então, lhe diz:
— Vejo que agora pode compreender…
E então, a repórter lhe diz:
— Sim, Mestre… Agora posso… E vejo que ainda há muito a compreender...
O mestre sorri e lhe reverencia com as mãos unidas sobre o peito.