Em uma determinada floresta habitava um homem. Ele havia chegado até ali por volta de seus vinte e oito anos e, dali, nunca mais saiu. Seus motivos para o total isolamento eram a evolução espiritual, o contato com a natureza e o distanciamento do caos da cidade grande.
Ali ele tinha uma rotina muito bem estabelecida: acordava com o Sol nascente, meditava em jejum, cuidava de suas plantações, colhia seus frutos, preparava sua refeição, etc. Realmente aquilo que ele buscava, realmente havia alcançado, pelo menos era isso que ele achava.
Certo dia, um helicóptero que sobrevoava a região sofreu uma pane e acabou tendo de fazer um pouso de emergência nas proximidades do acampamento daquele homem. O piloto deste helicóptero era o único tripulante e acabou sobrevivendo, porém, não tinha condições de prosseguir ferido, como estava.
O piloto tentou encontrar sinal de celular pelas redondezas, mas, como estava muito ferido, não quis se distanciar muito da aeronave, pois ele poderia utilizá-la como um abrigo temporário e, consequentemente, permaneceu inacessível por meios telefônicos ou digitais. A noite estava chegando e suas forças foram todas dirigidas a subir novamente na cabine do helicóptero para que pudesse se abrigar contra o frio, a chuva e quaisquer outras ameaças selvagens que pudessem ter ali.
À distância, o homem olhava aquele piloto em apuros, mas, após tantos anos isolado e vivendo sua espiritualidade sem perturbações, se absteve de ajudá-lo, pois não queria se expor. Acreditava, o homem, que o piloto seria logo encontrado por alguém que o estivesse procurando e, por isso, não precisaria correr o risco de se expor, sendo que já seria salvo.
No dia seguinte, após realizar sua meditação matinal, o homem foi cuidar de suas plantações e colher, delas, alguns frutos. Foi então que ouviu um grito ensurdecedor: "Não!". Era o piloto! Então, o homem começou a sentir algo que não havia sentido há tempos: adrenalina. Ficou em estado total de alerta e começou a correr, dirigindo-se ao piloto que estava no helicóptero.
Chegando por lá, viu alguns animais circulando a cabine do veículo e, então, os espantou. Agora, ele já estava exposto! O piloto o notara, com barba e cabelos longos, trajado de forma essencial. Eles se encararam e o piloto, aliviado, cansado e já sem forças, lhe disse:
— Muito obrigado, senhor... De onde o senhor surgiu?
O homem, lamentando ter de se expor, respondeu-lhe:
— Eu me faço essa mesma pergunta todos os dias.
O piloto, sem entender ao certo, porém, ainda muito curioso acerca do homem, lhe perguntou novamente:
— E ainda não encontrou a resposta?
E aí um diálogo se inicia, com a resposta do homem ao piloto:
— Não, vim para cá para encontrá-la. Sigo em frente, procurando por ela.
— Não entendo como alguém pode querer saber de onde veio, distanciando-se tanto, justamente, de onde veio.
— O fiz pois as respostas não estavam lá. Tive de me afastar para encontrar o caminho.
— Mas, se veio a este lugar, saiu de outro, então é só retornar...
— Tenho medo de perder tudo o que conquistei aqui. Me isolei para que não tivesse nenhuma interferência em minha jornada.
— Mas, se ainda tem medo, não deve ter muito a perder. Não deve ter conquistado muito. O seu isolamento pode ter sido, somente, resultado de uma covardia e não de uma evolução.
— Quando decidi partir, me convenci de que não haveria retorno. Não me lembro mais como voltar...
— Deve descobrir. Me diga, como pode, por si mesmo, saber de onde veio, se não retornar? Veja, não há problema algum em estar aqui, desde que não esteja fugindo de si mesmo. Talvez o próprio retorno seja a resposta...
Este conto nos traz uma reflexão metafórica da jornada do espírito pela matéria, através dos planos materiais. Leia-o uma segunda vez, meditando sobre cada verso, colocando-se na posição do homem.