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Tornado

Em um dia comum de uma cidade litorânea do hemisfério norte, aconteceu um evento inesperado, de proporções épicas. Uma mãe com seus dois filhos, esperava ansiosamente que seu marido chegasse do trabalho, após o alerta de tornado, emitido pelas autoridades. A cada minuto que se passava, o aparente desastre se desenhava.


Ao longe se via nuvens carregadas que se movimentavam de forma espiralada para baixo, tocando o chão, com enorme violência. Já era possível notar alguns destroços sendo espalhados por todos os lados, como se não significassem nada para a fúria dos ventos.


A mãe chamava-se Rose e ligava freneticamente para o marido, Gerald, que a atendia com certa angústia e temor, ao dirigir sua caminhonete por entre as estradas atingidas pelo tornado. Pela sua janela conseguia ver a violência dos ventos, bem como a sua fúria, que arrancava telhados inteiros das moradias circunvizinhas.


Os filhos, Benjamin e Catherine, abraçavam-se enquanto sua mãe, desesperada, ligava para seu pai. A situação era realmente amedrontadora, já que o único veículo da família era a caminhonete de Gerald.


O som das pessoas gritando, dos carros deixando o local e dos ventos fortes ao longe, bem como o risco iminente, apavorava e causava ansiedade em Rose, que tentava dizer às crianças que tudo ficaria bem, da melhor forma que conseguia.


Catherine era um ano mais nova que Benjamin e estava com vontade de ir ao banheiro. Enquanto a mãe a levava ao banheiro, seu irmão olhava pela janela e observava as árvores que se agitavam com a aproximação do vento. No mesmo instante, Gerald chegou em casa.


O pai entrou e foi logo recebido por Benjamin, que lhe pulou nos braços, dizendo que sua mãe estaria no banheiro com Catherine. Gerald foi até elas e as abraçou com a intenção de que fossem todos para o carro, porém, quando olharam pela janela, desistiram.


O tornado já estava muito próximo e a sua melhor chance de sobrevivência, naquele momento, seria o porão, pois o abrigo havia sido interditado para manutenção. Já era possível ver as casas vizinhas sendo atingidas pelos ventos e não se via mais a estrada claramente. 


Benjamin olhava por cima dos ombros de seu pai e não tirava os olhos das árvores que estavam sendo atingidas pelos ventos. Gerald dirigiu-se até a gaveta da cozinha para apanhar as chaves necessárias para abrir o porão, colocando o menino no chão.


As chaves estavam misturadas, o molho era bem grande e fazia muito tempo que não utilizavam aquele espaço. Eram duas fechaduras, uma superior e uma inferior, por isso, a cada tentativa, Gerald, testava a mesma chave em ambas.


Conforme o tempo ia passando, os ventos iam se aproximando e fazendo as janelas tremerem e as telhas rangerem. O clima estava muito tenso e desesperador. A mãe estava tentando ajudar, mas Catherine, estava chorando, com muito medo.


Benjamin tentou acalmá-la, dizendo que tudo ficaria bem, pois eles iriam se esconder do tornado lá no porão e que ele nunca iria conseguir achá-los lá. Essas palavras deram uma tranquilizada no coração de sua irmã e isso fez com que ela parasse de chorar momentaneamente. 


Após várias tentativas, os pais conseguiram abrir a porta do porão. Ali estava bastante escuro, a lâmpada havia queimado, mas não havia mais tempo para trocá-la por outra. O vento estava muito próximo e os vidros das janelas estavam todos quebrados, ou trincados, devido aos detritos que batiam nelas, pela força do vento.


O telhado já estava sendo atingido, porém, toda a família já estava descendo as escadas daquele escuro porão. Um pouco antes de Gerald fechar a porta do mesmo, uma viga da casa caiu à frente da porta e isso o impediu de fechá-la adequadamente. Gerald disse à sua esposa:


— Desçam! Escondam-se ao fundo! A porta travou e não consigo fechá-la!


Tamanho era o desespero, que Gerald continuou tentando remover a viga para que pudesse fechar a porta do porão. Benjamin estava indo ajudar ao seu pai, quando sua mãe o agarrou, copiosamente, e o conteve em seus braços. Mesmo sendo impedido, Benjamin gritava:


— Papai! Papai! Esconda-se com a gente!


O pai o ouviu, mas continuou tentando proteger a sua família, da melhor forma que podia. Nessa altura, os ventos já haviam atingido a sala, alguns móveis estavam sendo arrastados, porém, Gerald, estava disposto a ficar ali até conseguir, mesmo que o custo de sua obstinação, fosse a sua vida.


Alguns minutos se passaram e já era possível sentir a atração dos ventos. Gerald segurava-se no corrimão das escadas do porão, ao mesmo tempo que tentava chutar a viga que travava a porta. A batalha estava acirrada, porém, conforme os ventos exerciam sua atração severa sobre os objetos da casa, também levou consigo a viga.


O pai estava realizando um esforço descomunal para segurar-se no corrimão, ao mesmo tempo que tentava puxar a porta contra a força do vento. Sua mão esquerda segurava no corrimão, enquanto sua perna direita estava esticada, travando o seu corpo contra a direção do tornado. A mão direita puxava a porta em sua direção a fim de trancá-la.


O cenário estava assustador: os móveis eram vistos sendo levados pelo vento, ao mesmo tempo que a própria casa ia sendo deteriorada, com várias partes arrancadas. Gerald sentia-se totalmente impotente, pois a sua força empregada na porta era insuficiente para movimentá-la contra a atração dos ventos.


Lá embaixo, Catherine, desesperou-se e correu em direção à escada para ver seu pai. Gerald já estava quase sem forças, mas ver Catherine ali, o fez recobrá-las. Pediu para que ela se afastasse, mas a garotinha insistiu em subir. Sem saber, ela estava indo em direção ao tornado.

Com uma força descomunal, ao ver sua filha sendo quase levada pelo vento, o pai, soltou a porta e se interpôs entre ela e a menina, o que a fez abraçá-lo e segurá-lo. Quando sua casa estava quase que no centro do tornado, Gerald, não pôde mais aguentar e soltou suas mãos do corrimão…


Exatamente, neste momento, um móvel grande qualquer, arrastado pelo tornado, bateu na porta do porão e a trancou. Gerald usou suas últimas forças para girar a chave que já estava colocada previamente na fechadura, pelo lado de dentro.


Algumas horas se passaram e, ao sentirem-se seguros para saírem, abriram a porta e perceberam que a destruição havia sido quase que completa, se não fossem, eles, a própria exceção.


Sem mais casa, móveis, ou quaisquer outros bens, perceberam o amor incondicional que tinham, uns pelos os outros. Reconheceram o valor da união e do coração, quando direcionado corretamente, priorizando o que realmente importa: a vida. 


Neste momento, uma grande emoção tomou conta de toda a família e, abraçados, sentiram que tudo o que precisavam estava a salvo. Entenderam que ali seria um recomeço e que os bens materiais que tinham, poderiam ser, novamente, conquistados.


Rose segurava sua filha Catherine nos braços, enquanto Gerald as abraçava, ao mesmo tempo que segurava Benjamin. O garoto olhou novamente para as árvores ao longe e percebeu que as únicas que ficaram em pé, foram justamente aquelas que ele achou que cairiam primeiro, pois dobravam-se com facilidade…


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